Por Lisandra Paraguassu e Jeff Mason
BRASÍLIA/WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta quinta-feira que pretende aplicar 500 milhões de dólares no Fundo Amazônia nos próximos cinco anos, durante o Fórum Virtual de Grandes Economias sobre Clima e Energia, do qual o Brasil participa.
Um funcionário de alto escalão do governo norte-americano disse à Reuters que a equipe de Biden teria que trabalhar com o Congresso para garantir esse financiamento pretendido à iniciativa brasileira de proteção ambiental, reativada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste ano.
"Hoje eu tenho o prazer de anunciar que pedirei os fundos para que possamos contribuir com 500 milhões de dólares para o Fundo Amazônia e atividades relacionadas nos próximos cinco anos para apoiar o Brasil a eliminar o desmatamento até 2030", discursou o norte-americano.
De acordo com documento divulgado nesta manhã pela Casa Branca, o aporte está sendo feito diante do "renovado compromisso do Brasil de acabar com o desmatamento".
"O presidente também chamará outros líderes a apoiarem o Fundo Amazônia", afirma o texto da Casa Branca.
Em março, durante visita de Lula a Washington, o governo Biden ofereceu uma doação de 50 milhões de dólares ao fundo. O valor acabou não sendo divulgado por ter sido considerado baixo frente a compromissos assumidos por outros países.
Durante o fórum virtual, do qual Lula participou nesta manhã, o norte-americano também oficializou uma contribuição dos EUA de 1 bilhão de dólares para o Green Climate Fund, que financia projetos de energia limpa e resiliência às mudanças climáticas em países em desenvolvimento, dobrando a contribuição geral dos EUA.
A promessa de doação de 500 milhões de dólares ao Fundo Amazônia foi feita pelo governo norte-americano sem uma informação prévia ao Brasil, de acordo com duas fontes ouvidas pela Reuters, e foi uma boa surpresa. De acordo com um diplomata, o engajamento dos Estados Unidos, assim como o chamamento de Biden para que outros líderes participem dos esforços, é um gesto importante.
Em sua fala na cúpula, o presidente Luiz Inácio agradeceu a doação norte-americana e repetiu o compromisso do Brasil de chegar ao desmatamento ilegal zero até 2030, meta do país no acordo de Paris. Também reforçou a intenção do governo de reflorestar 12 milhões de hectares de terras na Amazônia.
Lula, no entanto, voltou a cobrar que os países desenvolvidos invistam mais recursos nos programas de combate às mudanças climáticas.
"Além da paz, é urgente buscarmos uma relação de confiança entre os países. No entanto, desde a Convenção do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro, a confiança entre os atores envolvidos tem declinado. Desde que o compromisso foi assumido, em 2009, o financiamento climático oferecido pelos países desenvolvidos mantém-se aquém da promessa de 100 bilhões de dólares por ano. Como disse no início, é preciso que todos façam a sua parte", disse o presidente.
Outro anúncio feito foi o da Corporação Norte-americana de Desenvolvimento Financeiro, uma agência de desenvolvimento do governo dos EUA, em um programa para emprestar 50 milhões de dólares para a estratégia de reflorestamento na América Latina do Timberland Investment Group (TIG), braço norte-americano do BTG Pactual (BVMF:BPAC11).
O recurso, segundo o BTG, vai ajudar na meta de tentar levantar até 1 bilhão de dólares no investimento em recuperação de terras degradadas no Brasil, Uruguai e Chile.
Biden, que fez do combate às mudanças climáticas uma de suas principais prioridades políticas, estabeleceu uma meta de reduzir as emissões dos EUA em entre 50% a 52% até 2030 em comparação com os níveis de 2005 e disse que os países desenvolvidos precisam ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar o problema.
Este mês, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA propôs cortes radicais nas emissões de carros e caminhões novos até 2032, em um esforço para impulsionar os veículos elétricos. Biden também aproveitou o encontro para incentivar os líderes do grupo a se unirem a um esforço coletivo para estimularem veículos de emissão zero e reduzir as emissões dos setores de transporte e energia.
Além do Brasil, estão entre os países que compõem o Fórum das Grandes Economias sobre Clima Energia Argentina, Austrália, Canadá, Chile, China, Egito, Comissão Europeia, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Coreia do Sul, México, Nigéria, Noruega, Arábia Saudita, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Vietnã.