Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em um discurso de mais de 40 minutos em tom de confronto, o presidente Jair Bolsonaro chamou de inimigos os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), fez ameaças veladas à democracia e levantou mais uma vez as críticas às urnas eletrônicas.
"Temos inimigos, poucos, e eles habitam a região dos três Poderes. Esses inimigos podem muito, mas não podem tudo", disse Bolsonaro, nesta quinta-feira, em evento em que deu posse aos substitutos de ministros que deixaram o governo para serem candidatos.
"Não podemos aceitar o que vem acontecendo passivamente", acrescentou.
Na cerimônia estava presente o deputado Daniel Silveira (União-RJ), que é investigado no inquérito de atos antidemocráticos. Silveira chegou cedo ao Planalto, onde foi recebido por Bolsonaro. Ele desceu a rampa para o Salão Nobre com o presidente e foi citado no discurso como exemplo de perseguição do Judiciário.
O deputado, que já foi preso por ameaças ao STF, descumpriu a ordem de se manter afastado de outros investigados no inquérito dos atos antidemocráticos, o que levou o relator do inquérito no STF, ministro Alexandre de Moraes, a ordenar que passasse a usar tornozeleira eletrônica. Depois de resistir, Silveira concordou, mas foi ao Planalto sem o equipamento.
"Quando a população deveria se preocupar em perder a liberdade com o chefe do Executivo, a preocupação é com outro Poder", afirmou.
Em seu discurso, Bolsonaro atacou outras decisões do STF, reclamou de processos que impedem críticas ao sistema eleitoral do país e criticou decisão recente da ministra Rosa Weber que impediu o arquivamento da investigação contra ele por prevaricação.
"Nós aqui temos tudo para sermos uma grande nação, para sermos exemplo para o mundo. O que falta? Que alguns poucos não nos atrapalhem. Se não tem ideias, cale a boca! Bota a tua toga e fica aí sem encher o saco dos outros! Como atrapalham o Brasil", disse.