Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil vai continuar adotando uma posição de "neutralidade" em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia, citando neste domingo a conversa com o líder russo, Vladimir Putin, em Moscou, na qual destacou em vários momentos a dependência brasileira dos fertilizantes produzidos naquele país.
"Estive há pouco conversando com o presidente Putin, mais de duas horas de conversa, tratamos de muita coisa, a questão dos fertilizantes foi a mais importante, tratamos do nosso comércio e obviamente ele falou alguma coisa sobre a Ucrânia. Eu me reservo aí, como segredo né, de não entrar em detalhes da forma como vocês gostariam", disse em entrevista coletiva à imprensa.
A Assessoria de Imprensa do Gabinete do Ministério das Relações Exteriores precisou esclarecer depois que Bolsonaro "se referia às duas horas de conversa ao vivo, na visita a Moscou", após a interpretação inicial da imprensa de uma nova conversa com Putin pouco antes da coletiva. Bolsonaro e Putin conversaram em Moscou no dia 16 de fevereiro.
"Não houve telefone no domingo", afirmou a assessoria do ministério.
Na entrevista coletiva, Bolsonaro disse que o mundo se preocupa com o conflito, citando que se ele for para a "a área nuclear, o mundo todo vai sofrer com isso aí". Isso não interessa para ninguém, seria um suicídio". O comentário de Bolsonaro ocorreu após Putin ter colocado as forças nucleares russas em alerta máximo.
Bolsonaro procurou deixar clara a posição brasileira na coletiva.
"Agora, nós devemos entender o que está acontecendo. No meu entender, nós não vamos tomar partido, nós vamos continuar pela neutralidade e ajudar no que for possível na busca da solução", afirmou ele, na entrevista que ocorreu dentro do Forte dos Andradas, no Guarujá, no litoral de São Paulo, onde o presidente e a comitiva passam o período do Carnaval.
O presidente disse esperar que "isso se resolva nos próximos dias porque todo mundo tem a perder, inclusive quem não entrar na guerra".
ONU
Na fala com os jornalistas, Bolsonaro adotou um tom mais cauteloso do que a posição externada no Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).
Na sexta, o país votou a favor do projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU proposto pelos Estados Unidos que condenaria a invasão da Ucrânia por tropas russas, em um posicionamento mais claro em relação à crise.
Neste domingo, entretanto, Bolsonaro não fez uma condenação sobre a atuação do líder russo, que determinou uma invasão militar mais ampla da Ucrânia para além das regiões em que separatistas proclamaram independência, Luhansk e Donestk. Afirmou que "não tem nenhuma sanção ou condenação ao presidente Putin".
O presidente disse que o voto do Brasil na ONU não está "atrelado a qualquer potência" e que, mesmo não tendo assento permanente no Conselho de Segurança, o país tem voz.
"O voto do Brasil não está definido e não está atrelado a qualquer potência. Nosso voto é livre e vai ser dado nessa direção... a nossa posição com o ministro Carlos França é de equilíbrio. E nós não podemos interferir. Nós queremos a paz, mas não podemos trazer consequências para cá", destacou.
Neste domingo, o Conselho de Segurança aprovou , com voto favorável do Brasil, uma sessão especial da Assembleia-Geral sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Em declaração no conselho neste domingo, o embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, defendeu um imediato cessar-fogo no conflito e apelou também para que a Ucrânia e a Rússia facilitem a "retirada de todas as pessoas que queiram deixar o território ucraniano".