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Bolsonaro diz a golpistas que eles decidem rumo das Forças Armadas e os insta "a fazer a coisa certa"

Publicado 09.12.2022, 17:29
Atualizado 09.12.2022, 19:15
© Reuters. 06/12/2022
REUTERS/Adriano Machado

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) -Em sua primeira aparição a apoiadores que pedem um golpe militar após a derrota nas eleições, o presidente Jair Bolsonaro fez um discurso em que disse que o Brasil está numa "encruzilhada", que são eles quem decidem para onde vão as Forças Armadas e instou os presentes a "fazer a coisa certa".

A fala de Bolsonaro, que estava praticamente recluso havia quase 40 dias, ocorre a três dias da diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Superior Eleitoral.

A fala alimenta os temores dos críticos de que os apoiadores bolsonaristas se sintam ainda mais estimulados a tentar de alguma forma impedir o rito, assim como os trumpistas fizeram no Capitólio, nos EUA, em 2021. Bolsonaro jamais reconheceu a derrota para o petista no segundo turno.

Nesta sexta, Lula anunciou cinco dos principais ministros do seu governo, que toma posse em 1º de janeiro, entre eles o titular da Defesa, o ex-ministro do Tribunal de Contas da União e ex-deputado federal José Múcio Monteiro.

Múcio, que também tem trânsito com Bolsonaro, já indicou a Lula os nomes para comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica.

"Hoje estamos vivendo um momento crucial, uma encruzilhada, um destino que o povo tem que tomar. Quem decide o meu futuro, para onde eu vou são vocês. Quem decide para onde vai as Forças Armadas são vocês. Quem decide para onde vai a Câmara e o Senado são vocês também", disse Bolsonaro aos apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada.

LEALDADE

Bolsonaro afirmou ainda que as Forças Armadas devem lealdade ao "nosso povo" e respeito à Constituição, que nunca saiu das "quatro linhas", ressaltando que "tudo dará certo no momento oportuno".

Para o presidente, "nada está perdido" e que é preciso fazer a coisa certa.

"Nada está perdido... nunca sai de dentro das quatro linhas da Constituição e acredito que a vitória será também desta maneira. Dou a minha vida pela minha pátria", afirmou.

Aos apoiadores, o presidente pediu a eles que acreditem, se unam e critiquem somente se tiverem certeza absoluta e que busquem alternativas.

"Não podemos esperar chegar lá na frente e olhar para trás e dizer o que eu não fiz lá atrás e chegarmos a esta situação de hoje em dia? Sabemos que cada minuto é um minuto a menos, vamos fazer a coisa certa. Diferentemente de outras pessoas, vamos vencer", disse.

SISTEMA

Ao lado do ex-candidato a vice, o general da reserva Walter Braga Netto, e assessores, o presidente ressaltou que não é fácil enfrentar todo um sistema, repetindo o discurso que ficou conhecido desde que chegou ao Palácio do Planalto em 2018.

Bolsonaro repetiu que as Forças Armadas são o último obstáculo ao socialismo.

"As Forças Armadas estão unidas, devem lealdade ao nosso povo e devem respeito à Constituição e são responsáveis por nossa liberdade", destacou.

Ante a falas golpistas de "eu autorizo" de apoiadores, que supostamente sugeririam uma ilegal intervenção militar que seria determinada pelo presidente da República, Bolsonaro não desautorizou a fala, mas elaborou.

"Não vou falar do outro lado político, mas qual o futuro do Brasil? O que aconteceu, por que chegamos a este ponto, demoramos a acordar?", questionou.

"Nunca é tarde para acordar e sabermos a verdade. Logicamente quanto mais tarde você acorda, mais difícil é a missão. Não é 'eu autorizo' não, é o que eu posso fazer pela minha pátria. Não é jogar a responsabilidade a uma única pessoa. Eu sou exatamente igual a cada um de vocês que está aqui", afirmou.

Em uma espécie de aval indireto a manifestações golpistas que ocorrem em frente a quartéis e que cobram intervenção militar, Bolsonaro disse que há pessoas se manifestando "de acordo com as nossas leis" e que são "cidadãos de bem".

© Reuters. 06/12/2022
REUTERS/Adriano Machado

"Se Deus quiser, tudo dará certo no momento oportuno", destacou.

Desde as eleições, uma série de medidas para impedir bloqueios de rodovias e atos antidemocráticos contrários ao resultado eleitoral foram tomadas pelo Poder Judiciário.

(Edição de Alexandre Caverni e Flávia Marreiro)

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