Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Com o impulso da janela partidária que engordou o PL e outros partidos aliados, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu imprimir uma estrutura nacional de campanha com palanques em praticamente todos os Estados, movimento que deve reforçar a polarização dele com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro.
O panorama é mostrado pelo resultado das trocas partidárias encerradas na semana passada e por conversas da Reuters com aliados de Bolsonaro nos últimos dias.
Segundo o balanço preliminar, o presidente já tem pré-candidatos a governos estaduais ou ao Senado que o apoiam e devem dar a ele palanques em pelo menos 24 unidades da Federação. Nessa conta, Bolsonaro provavelmente vai emplacar nomes em importantes colégios eleitorais do país.
São os casos do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, que pretende concorrer ao governo de São Paulo pelo Republicanos; do senador por Minas Gerais Carlos Viana, que deixou o MDB para se filiar ao PL a fim de concorrer ao governo mineiro; e do ex-ministro da Cidadania e deputado federal João Roma, que trocou o Republicanos pelo PL para disputar o governo baiano.
O PL, partido ao qual Bolsonaro ingressou em novembro passado para concorrer à reeleição, e outros partidos aliados ao governo, também conquistaram novos filiados para disputar governos em vários Estados, especialmente no Nordeste, região onde Lula tem tido seus melhores desempenhos nas pesquisas de intenção de voto.
"No Nordeste se dizia que Bolsonaro não estaria forte, mas teremos candidatos em quase todos os Estados", disse à Reuters o presidente em exercício do PP, o deputado federal Cláudio Cajado (BA), ao destacar que o resultado acaba por reforçar a disputa entre Bolsonaro e Lula, sem espaço para a chamada terceira via.
"A eleição foi nacionalizada. Muitos palanques vão se posicionar de um lado e do outro. A eleição está muito polarizada dos dois lados", reforçou ele, referindo-se aos dois principais nomes na corrida ao Palácio do Planalto de acordo com as sondagens.
Uma fonte ligada ao grupo que tem coordenado a campanha à reeleição de Bolsonaro afirmou reservadamente à Reuters que o resultado da janela partidária surpreendeu os aliados do presidente.
A avaliação da fonte é de que o partido do presidente cresceu muito e ficou melhor a definição de como vai ficar a formatação dos palanques estaduais para a corrida presidencial. Essa fonte acrescentou que, em comparação com as eleições de 2018, em que se lançou como uma espécie de outsider, a campanha de Bolsonaro está mais profissionalizada.
No caso de São Paulo, maior colégio eleitoral brasileiro, além da candidatura de Tarcísio, disse a fonte, houve um fortalecimento do palanque no Estado com parlamentares migrando para partidos da base na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa paulista.
"A movimentação deixou o partido do presidente e a base aliada muito fortalecida", afirmou a fonte.
Dados compilados pela Câmara dos Deputados até o final da manhã desta quarta-feira apontam que a bancada do PL subiu de 33 na eleição de 2018 --quando ainda se chamava PR-- para 77 com a janela. O PP passou de 38 para 52 e o Republicanos foi de 30 para 42.
Campanha mista
Diferentemente da sucessão de 2018, segundo a fonte, a campanha deste ano terá uma atuação mista, por meio de uma estrutura em nível regional bem mais encorpada, ao mesmo tempo em que seguirá atuando nas redes sociais, onde Bolsonaro tem bastante influência.
O presidente em exercício do PP vai na mesma linha e disse que, com a campanha eleitoral mais rápida --oficialmente a campanha do primeiro turno dura só 45 dias-- é impossível ir a muitas localidades em um país de dimensões continentais com o Brasil. Por isso, destacou, a importância da internet desde a pré-campanha.
"Você começa a perceber que a movimentação se inicia não durante a campanha, mas já na pré-campanha que vai se dar muito em redes sociais", disse Cajado.
A coordenação dessa etapa de pré-campanha de Bolsonaro tem sido feita principalmente pelo senador Flavio Bolsonaro (PL), primogênito do presidente, juntamente com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil e presidente licenciado do PP, segundo a fonte. Eles se reúnem periodicamente para traçar os novos passos do presidente.