SÃO PAULO (Reuters) - O dramaturgo Zé Celso Martinez morreu nesta quinta-feira no Hospital das Clínicas, em São Paulo, aos 86 anos, em decorrência dos ferimentos que sofreu durante um incêndio no apartamento em que morava na capital paulista.
A morte foi confirmada no perfil no Instagram do Teatro Oficina, criado por ele.
O dramaturgo estava internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HC desde a terça-feira por causa de queimaduras sofridas durante o incêndio.
"Nossa fênix acaba de partir para a morada do sol. Amor de muito. Amor sempre", disse mensagem publicada no perfil do Teatro Oficina no Instagram, acompanhada de uma foto do dramaturgo.
Nascido em Araraquara, no interior de São Paulo, Zé Celso chegou a cursar Direito na Universidade de São Paulo, quando teve contato com o teatro e fundou em 1958, uma das companhias teatrais mais longevas do Brasil e que revolucionou o teatro no país. Não chegou a concluir o curso.
Com um teatro de vanguarda, que muitas vezes colocava os espectadores como parte do espetáculo, Zé Celso também teve relevante atuação política no combate à ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985.
Durante encenação em São Paulo da peça Roda Viva, de autoria de Chico Buarque e dirigida por Zé Celso, em 1968, um grupo de militantes da organização de direita Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o teatro onde a encenação era realizada, depredou o local e agrediu atores e atrizes.
Ele foi também um dos expoentes do Tropicalismo, movimento cultural que sacudiu o cenário artístico brasileiro no final da década de 1960 e que também teve entre seus ícones os cantores e músicos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Rita Lee.
Perseguido pela ditadura, foi preso e torturado nas dependências do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo, exilando-se depois disso em Portugal e retornando do exílio em 1978.
O dramaturgo casou-se há menos de um mês com o ator Marcelo Drummond em cerimônia que contou com apresentações de grandes nomes da música como Daniela Mercury e Marina Lima.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do dramaturgo em sua conta no Twitter.
"O Brasil se despede hoje de um dos maiores nomes da história do teatro brasileiro, um dos seus mais criativos artistas. José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, como sempre foi chamado carinhosamente, foi por toda a sua vida um artista que buscou a inovação e a renovação do teatro", disse Lula.
"Corajoso, sempre defendeu a democracia e a criatividade, muitas vezes enfrentando a censura. Transformou o Teatro Oficina em São Paulo em um espaço vivo de formação de novos artistas. Deixa um imenso legado na dramaturgia brasileira e na cultura nacional."
(Por Eduardo Simões)