Por Lisandra Paraguassu
SÃO PAULO (Reuters) - Em sua primeira fala depois de ser anunciado como presidente eleito do país, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu que a partir de 1º de janeiro irá "governar para todos" e colocou novamente o combate à fome como sua prioridade número um de governo.
"A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação", discursou Lula logo após de ter sido confirmado como presidente eleito em uma fala para a imprensa e apoiadores em um hotel da zona central de São Paulo.
Lula foi declarado matematicamente eleito pouco antes das 20h e chegou ao hotel às 20h14, enquanto centenas de apoiadores comemoravam nas ruas em frente ao hotel. Em um carro com teto solar, o presidente eleito cumprimentou seus apoiadores antes de entrar.
Enquanto subia ao palco, Lula recebeu um telefonema do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, para confirmar sua eleição e cumprimentá-lo.
Em uma fala de cerca de 20 minutos, Lula chamou sua eleição de uma "ressurreição".
"Eu tive um processo de ressurreição. Porque tentaram me enterrar vivo e eu estou aqui para governar esse país", disse Lula de improviso, antes de começar a ler seu discurso.
Novamente, o ex-presidente reafirmou sua prioridade no combate à fome e da retomada do desenvolvimento do país.
"O Brasil é minha causa, o povo é minha causa, combater a miséria é pelo que vou lutar até o fim da minha vida", disse.
Lula também prometeu, em seu discurso da vitória, fazer a roda da economia voltar a girar para criar empregos e reiterou promessas que fez durante a campanha, de reajustar o salário mínimo acima da inflação e promover um programa de renegociação das dívidas das famílias.
"A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra. A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento", disse.
AMAZÔNIA E POLÍTICA EXTERNA
O presidente eleito disse que lutará pelo desmatamento da Amazônia e disse que o país será protagonista no combate às mudanças climáticas.
"O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a floresta amazônica", disse.
"Vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia. O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra."
Lula também repetiu que pretende reposicionar o Brasil no cenário global e falou em fortalecer o Mercosul. Buscou ainda fazer uma sinalização aos investidores.
"Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo", disse.
Acompanharam o discurso de Lula o ex-presidente do Uruguai Pep Mujica e o ex-primeiro-ministro da Espanha José Luis Zapatero.
Em nota, a Casa Branca disse que o presidente dos EUA, Joe Biden, parabeniza Lula pela vitória no que chamou de eleições "livres e justas".
Pelo Twitter, os presidente da França, Emmanuel Macron; da Bolívia, Luis Arce; de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa; do México, Andrés Manuel López Obrador; e do Chile, Gabriel Boric, além do premiê da Espanha, Pedro Sánchez, entre outros, parabenizaram Lula pela vitória.
"Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores --nacionais e estrangeiros-- retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental."
O petista aproveitou também para fazer mais uma indicação de que pretende abrir o leque de seu governo para forças políticas para além do PT e reconhecer que a vitória ultrapassou os limites do partido e dele mesmo. Um sinal disso, foi agradecer de cara a participação da senadora Simone Tebet, do MEB, que havia ficado em terceiro lugar no primeiro turno e se juntou à campanha petista depois disso.
"Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos --partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, governadores, prefeitos, gente de todas as religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno", afirmou.