BRASÍLIA (Reuters) - O ex-diretor adjunto da Abin Saulo Moura da Cunha afirmou nesta terça-feira que avisou o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general da reserva Gonçalves Dias, por meio de mensagens, alertas e até mesmo em ligação telefônica, sobre os riscos de ações violentas e invasão de prédios públicos nos atos democráticos do dia 8 de janeiro que resultaram na depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília.
"Eu comecei a falar no dia 8 de janeiro com o general G. Dias... Não falar, passar informações por ele, para ele, encaminhar as informações que eu recebia, por volta das 8h da manhã", disse Cunha à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, citando que em uma das ocasiões o então ministro chegou a respondê-lo, pelo WhatsApp, dizendo: "Acho que vamos ter problemas".
O ex-diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) relatou à comissão que ao receber ligação de um "colega" responsável pela segurança de um dos órgãos dos Três Poderes "muito preocupado", pedindo o telefone de Dias, resolveu ele mesmo telefonar ao chefe do GSI.
"Eu passo o contato do general G. Dias e ligo para o general G. Dias, por volta de 13h30 (do dia 8 de janeiro), e falo com ele: 'General, nós temos a impressão, nós temos já uma certa convicção -- e nesse momento a marcha se deslocava, ela não havia rompido ainda nenhuma barreira, ela começava a se deslocar -- de que as sedes dos Poderes serão invadidas, ou, pelo menos, haverá uma ação violenta em relação a esses prédios'", disse Cunha aos parlamentares.
Segundo Cunha, pouco antes da marcha começar a se deslocar, a Abin já tinha em mãos a informação de um chamamento -- inclusive por um carro de som -- para a invasão de prédios.
G. Dias, como é conhecido, tornou-se o primeiro auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a deixar o governo em seu terceiro mandato presidencial. O ex-ministro pediu demissão após a divulgação de imagens que o mostram circulando pelo Palácio do Planalto em meio aos ataques de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro na sede do Poder Executivo em 8 de janeiro.
Recentemente, em audiência numa outra CPI sobre os ataques antidemocráticos, instalada na Câmara Legislativa do Distrito Federal, Dias negou que tenha recebido alertas sobre eventual "escalada de anormalidade" pelos canais oficiais estabelecido.
Cobrança por imagens
No início da sessão da CPI nesta terça, o presidente do colegiado, deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA), determinou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, envie, em um prazo de 48 horas, as imagens internas da pasta no dia dos ataques.
A comissão já havia aprovado um requerimento pedindo as imagens, mas Dino informou, em ofício, que as imagens fazem parte do conjunto de provas de um inquérito sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), e, portanto, não poderiam ser repassadas.
Em publicação nesta terça-feira na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter, Dino acusou adversários de criarem falsas informações sobre os atos de 8 de janeiro.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)