Por Maria Tsvetkova
KIEV (Reuters) - Mísseis russos atingiam Kiev, famílias estava recolhidas em abrigos e autoridades diziam às pessoas para preparar coquetéis molotov para defender sua capital na sexta-feira, ao mesmo tempo em que o presidente russo, Vladimir Putin, fez um apelo para que os militares ucranianos tomem o poder para chegar a um acordo de paz.
Após semanas de alertas de líderes ocidentais, Putin desencadeou uma invasão tripla da Ucrânia pelo norte, leste e sul antes do amanhecer na quinta-feira, no maior ataque a um Estado europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
"Mais uma vez eu apelo aos militares das Forças Armadas da Ucrânia: não permitam que neonazistas e (nacionalistas radicais ucranianos) usem suas crianças, esposas e idosos como escudos humanos", disse Putin em discurso televisionado durante reunião com seu conselho de segurança.
"Tomem o poder em suas próprias mãos, será mais fácil para nós chegarmos a um acordo."
Putin diz que não planeja uma ocupação militar, que o objetivo é apenas desarmar a Ucrânia e remover seus líderes, em alusão a nacionalistas de extrema-direita ucranianos que colaboraram com invasores nazistas na Segunda Guerra Mundial para combater a Rússia soviética. Mas não está claro como um líder pró-Rússia pode assumir a menos que as tropas russas controlem grande parte do país.
Moscou disse que capturou o campo aéreo de Hostomel, no noroeste da capital, um posto vital para uma ofensiva a Kiev, e palco de um combate que tem sido travado desde que tropas paraquedistas russas chegaram nas primeiras horas da guerra. A versão de Moscou não pôde ser confirmada, e as autoridades ucranianas reportaram combates pesados no local.
"Tiros e explosões estão sendo escutadas em algumas vizinhanças. Sabotadores já entraram em Kiev", disse o prefeito de Kiev, o ex-campeão mundial de boxe na categoria dos pesos pesados Vitali Klitchko. "O inimigo quer colocar a capital de joelhos e nos destruir."
O presidente Volodymyr Zelenskiy tuitou que combates intensos estavam acontecendo, com mortes nas entradas das cidade de Chernihiv e Melitopol, assim como em Hostomel.
As janelas de um prédio de apartamentos de 10 andares nas imediações do principal aeroporto de Kiev estouraram. Uma cratera de dois metros mostrava o local onde uma bomba explodiu antes do amanhecer.
"Como é que estamos passando por isso nos nossos tempos? Putin deveria queimar no inferno junto com sua família inteira", disse Oxana Gulenko, varrendo o vidro em seu quarto.
Centenas de pessoas se amontoaram em um abrigo antiaéreo lotado, embaixo de um prédio, após um alerta televisionado sobre ataques aéreos.
"Como pode alguém fazer guerra contra um povo pacífico?", disse Viktoria, de 35 anos, enquanto seus filhos de 5 e 7 anos dormiam com seus casacos de inverno.
Alla, de 40 anos, disse: "As crianças estão com medo, elas choravam e perguntavam 'Mãe, nós vamos todos morrer?".
Testemunhas disseram ter ouvido grandes explosões em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, próxima às fronteiras com a Rússia, e as sirenes soaram também em Lviv, no oeste. Autoridades também reportaram combates intensos na cidade de Sumy, no leste do país.
Autoridades norte-americanas acreditam que o objetivo inicial da Rússia é "decapitar" o governo de Zelenskiy, que disse que sabe que é "o alvo número um", mas que permanecerá em Kiev.
(Reportagem de Natalia Zinets e Maria Tsvetkova em Kiev, Aleksandar Vasovic em Mariupol)