Por Ricardo Brito e Rodrigo Viga Gaier
BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Uma troca de mensagens entre o líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ), e uma liderança extremista que pedia orientação ao "meu líder" para "parar tudo" foi um dos elementos que motivou a Polícia Federal a requerer busca e apreensão em endereços do parlamentar, segundo decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes vista pela Reuters.
Jordy foi um dos alvos da PF nesta quinta-feira no âmbito da 24ª fase da operação Lesa Pátria, que investiga os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 por bolsonaristas radicais que buscavam a derrubada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A nova fase eleva o patamar das apurações ao colocar um parlamentar ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro diretamente entre os suspeitos de planejar e organizar os atos antidemocráticos.
O gabinete de Jordy na Câmara dos Deputados e a casa dele foram alvos das buscas autorizadas pelo Supremo.
"Busca e apreensão da PF por determinação de Alexandre de Moraes. Operação Lesa Pátria. Uma medida autoritária, sem fundamento, sem indício algum, que somente visa perseguir, intimidar e criar narrativa às vésperas de eleição municipal", escreveu Jordy em sua conta no Instagram.
"Isso é a verdadeira constatação que nós estamos vivendo uma ditadura", afirmou ele em vídeo publicado na rede, no qual nega ter incitado os ataques de 8 de janeiro.
Segundo a decisão de Moraes, as investigações apontaram que Carlos Victor de Carvalho, uma "liderança extremista de direita" do interior do Rio de Janeiro, trocou mensagens com Jordy pedindo orientação sobre o que fazer no dia 1º de dezembro de 2022.
"Bom dia meu líder. Qual direcionamento você pode me dar? Tem poder de parar tudo", perguntou Carvalho. "Fala irmão, beleza? Está podendo falar aí?", respondeu Jordy. "Posso irmão. Quando quiser pode me ligar", treplicou Carvalho, em movimento que aponta para se usar a chamada do WhatsApp, aplicativo que não se consegue rastrear as ligações telefônicas.
Carvalho é suplente de vereador da Câmara Municipal de Campos dos Goyatacazes (RJ) e servidor da Assembleia Legislativa do Estado, tendo liderado uma série de grupos extremistas em redes sociais e organizado eventos nos arredores do Batalhão do Exército da sua cidade, de acordo com o despacho de Moraes.
Não foi possível contactar Carvalho ou seus representantes de imediato.
Na decisão, Moraes destacou ainda que na data do diálogo estavam em curso bloqueios de rodovias em todo o país, inclusive em Campos. "E no diálogo acima Carlos Victor chama o parlamentar de 'meu líder', e pede orientação quanto a 'parar tudo', sendo portanto fortes os indícios de envolvimento de Carlos Jordy nos delitos apurados na presente investigação, mediante auxílio direto na organização e planejamento", disse Moraes.
"Além disso, como também ressaltou a Procuradoria-Geral da República, Carlos Victor entrou em contato telefônico com o parlamentar enquanto se encontrava foragido, em 17/01/2023, fatos suficientes a justificar a necessidade de que seja investigado", reforçou o magistrado.
Em relatório, a PF também descobriu que Carlos Victor tinha o hábito de trocar mensagens com o parlamentar. Foram encontrados 627 registros, como mensagens de texto, áudios, anexos e ligações pelo WhatsAppp.
DEZ MANDADOS
Antes de prestar depoimento na Superintendência da PF no Rio, Jordy voltou a negar ter cometido qualquer irregularidade.
"Nunca incentivei, nunca financiei e não tenho relação com 8 de janeiro nem com ninguém dessas pessoas que foram para quartéis generais", disse. "Dizem que há mensagens minhas como mentor e articulador do 8 de janeiro e bloqueio de estradas; mentira, mentira!".
Em nota sobre a operação desta quinta-feira, a Polícia Federal informou que a nova fase visa "identificar pessoas que planejaram, financiaram e incitaram atos antidemocráticos ocorridos entre outubro de 2022 e o início do ano passado, no interior do Estado do Rio de Janeiro".
A corporação afirmou ainda que cumpriria 10 mandados de busca e apreensão, sendo oito no Rio e dois no Distrito Federal.
"Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, associação criminosa e incitação ao crime", disse a PF em nota.