Por Andre Paultre e Sarah Marsh
PORTO PRÍNCIPE (Reuters) - Uma disputa por poder está ganhando força no Haiti porque o homem nomeado primeiro-ministro pouco antes do assassinato do presidente do país nesta semana disse que ele --e não o premiê interino-- deveria liderar a nação e que está formando um governo para fazê-lo.
Ariel Henry, um neurocirurgião que foi nomeado primeiro-ministro pelo presidente Jovenel Moise na segunda-feira, dois dias antes de Moise ser assassinado por um esquadrão de homens armados em sua casa na capital, Porto Príncipe, disse que ele agora era a maior autoridade do Haiti, e não o primeiro-ministro interino Claude Joseph.
"Após o assassinato do presidente, eu me tornei a maior autoridade legal porque houve um decreto me nomeando", disse Henry à Reuters em entrevista por telefone na sexta-feira.
Henry ainda não havia tomado posse para substituir Joseph no momento do assassinato, o que criou confusão sobre quem é o legítimo líder de 11 milhões de pessoas no Haiti, que divide a ilha de Hispaniola com a República Dominicana.
O ministro eleitoral Mathias Pierre afirmou que Joseph continuaria no cargo até a realização de novas eleições presidenciais e legislativas em 26 de setembro.
Henry afirmou que o novo governo que ele está formando, no entanto, criaria um novo conselho eleitoral --porque o anterior era considerado muito partidário-- e que esse conselho determinaria uma nova data para as eleições.
A Constituição de 1987 do Haiti estipula que o líder da Suprema Corte deve assumir como presidente interino, mas emendas que não são reconhecidas por todos dizem que seria o primeiro-ministro ou, no último ano do mandato do presidente --como no caso de Moise-- o Parlamento deveria eleger um presidente.
Para complicar ainda mais a situação, o líder da Suprema Corte morreu mês passado após contrair Covid-19, em meio a um surto de infecções em um dos poucos países do mundo que ainda não começou uma campanha de vacinação.
Também não há um Parlamento eleito porque as eleições legislativas marcadas para o fim de 2019 foram adiadas por distúrbios políticos.
(Reportagem de André Paultre em Porto Príncipe, Sarah Marsh em Havana e Julia Symmes Cobb em Bogotá)