Por Lisandra Paraguassu
BUENOS AIRES (Reuters) - Ao trazer de volta o Brasil à Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou o caráter pacifista da região, agradeceu a união dos países em condenar os atos antidemocráticos e enfatizou a necessidade de mais integração, não só entre os 33 países, mas com outros blocos.
"Quero aqui aproveitar para agradecer a todos e a cada um de vocês que se perfilaram ao lado do Brasil e das instituições brasileiras, ao longo destes últimos dias, em repúdio aos atos antidemocráticos que ocorreram em Brasília", disse o presidente, em referência aos ataques ocorridos em 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes, em Brasília.
"É importante ressaltar que somos uma região pacífica, que repudia o extremismo, o terrorismo e a violência política."
O tema dos ataques em Brasília e do surgimento de uma extrema-direita radical na América Latina --e em vários países do mundo-- foi tema também da fala do presidente anfitrião, o argentino Alberto Fernández, que enfrenta esse ano uma difícil candidatura à reeleição com opositores identificados com a extrema-direita.
"Vimos como setores da extrema-direita se levantaram e estão ameaçando cada um dos nossos povos. Não podemos permitir que essa direita recalcitrante e fascista coloque em risco a institucionalidade de nossos povos", disse o argentino, citando como exemplos os ataques em Brasília, o atentado a Cristina Kirchner e a crise na Bolívia que levou à renúncia de Evo Morales.
O assunto foi tema também de fala de Lula no dia anterior, quando pediu aos argentinos, em fala na Casa Rosada, que não elegessem a extrema-direita no país.
O encontro na Argentina foi o primeiro fórum multilateral que Lula participa desde sua posse, como ele mesmo destacou, e marca a volta do Brasil ao cenário das discussões internacionais. Em seu discurso, Lula destacou a necessidade cada vez maior de integração na região, e também dos países com outros blocos.
"A integração com o resto do mundo será feita em melhores termos se estivermos bem integrados em nossa região", defendeu, para em seguida reafirmar: "Julgamos essenciais o desenvolvimento e o aprofundamento dos diálogos com sócios extrarregionais, como a União Europeia, a China, a Índia, a Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) e, muito especialmente, a União Africana."
A volta do Brasil à Celac era aguardada com ansiedade pelos países-membros desde a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado. O governo anterior havia retirado o Brasil da comunidade em 2019, sob a alegação de que não queria fazer parte de um grupo com a presença de Venezuela e Cuba.
Ao abrir a cúpula, Fernández pretendia que Lula fosse o primeiro presidente a falar, furando a fila, em uma deferência a esse retorno. O presidente, no entanto, preferiu manter a ordem e foi o quarto a discursar, mantendo a ordem alfabética.
Em sua fala, Lula ressaltou ainda a necessidade dos países da região se unirem em torno de iniciativas de proteção dos biomas, especialmente da Amazônia, e defendeu a união em torno da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que deve ter uma reunião este ano, convocada pelo Brasil.
"A cooperação que vem de fora da nossa região é muito bem-vinda, mas são os países que fazem parte desses biomas que devem liderar, de maneira soberana, as iniciativas para cuidar da Amazônia", afirmou.
Lula lembrou que apresentou a candidatura do Brasil para sediar a COP30, em 2025, e agradeceu o apoio aos países da região ao pleito brasileiro.
Em seu discurso, o presidente elogiou também Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, que assume a liderança da Celac.