Por Steve Holland
NOVA YORK (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira, durante reunião bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em Nova York, que o encontro entre ambos significava um "renascer" nas relações entre Brasil e EUA.
Em declaração ao lado de Biden para marcar uma parceria entre os dois países para promover o trabalho digno, Lula disse ser necessário que Brasil e EUA trabalhem juntos e que os laços entre os dois países devem ser aperfeiçoados.
"Há uma perspectiva de trabalho conjunto excepcional entre Brasil e Estados Unidos. Portanto esse encontro para mim é mais que uma bilateral, é o renascer de um novo tempo na relação Estados Unidos e Brasil. Uma relação de iguais, uma relação soberana, mas uma relação de interesses comuns em benefício do povo trabalhador do seu país e do meu país", disse Lula dirigindo-se a Biden.
Ex-líder sindical, Lula disse ainda que nunca viu um presidente dos EUA que falasse tão bem dos trabalhadores como Biden.
"Eu acompanhei seu discurso de posse, depois acompanhei outros discursos seus e eu nunca tinha visto um presidente americano falar tanto e tão bem dos trabalhadores como o senhor falou", disse Lula, que já havia se reunido com Biden em fevereiro, na Casa Branca.
“Espero que a relação Estados Unidos e Brasil seja aperfeiçoada, que a gente se trate e se comporte como amigos em busca de um objetivo comum, de desenvolvimento e melhoria de vida do povo”, acrescentou.
Em sua fala, Biden disse a Lula que quando os trabalhadores organizados estão mobilizados, todos se saem melhor, inclusive os ricos. Na mesma linha, Lula disse ser necessário convencer os mais ricos que, se a situação dos pobres melhorar, eles também estarão em melhor posição, pois a pobreza e a miséria não interessam a ninguém.
Lula pediu ainda que os EUA estejam atentos ao que acontece no Brasil em um momento de transição energética e disse que há grandes oportunidades de investimento no Brasil em energias limpas e renováveis.
A iniciativa conjunta sobre os trabalhadores faz parte de um esforço dos EUA para fortalecer os laços com o Brasil, que tem mantido laços estreitos com a China, o seu principal parceiro comercial, mesmo com o aumento acentuado das tensões entre Pequim e Washington.
Uma autoridade norte-americana disse que os EUA têm sido muito claros sobre suas preocupações sobre supostas violações dos direitos humanos na China, bem como sobre as práticas econômicas e a expansão militar da China, e que discutiria essas questões com o Brasil.
Biden e Lula também discutiram a importância da democracia na Venezuela. Biden delineou uma abordagem passo a passo que poderia proporcionar alívio das sanções dos EUA se a Venezuela tomasse ações concretas que levassem a eleições livres e justas, disse a Casa Branca em comunicado após a reunião.
Os dois líderes também discutiram a importância de continuar a apoiar o Haiti enquanto o país enfrenta uma crise humanitária e de segurança, e Biden instou Lula a apoiar uma missão multinacional de apoio à segurança naquele país, disse a Casa Branca.
No encontro, o mandatário brasileiro afirmou também que a democracia corre cada vez mais perigo no momento geopolítico atual do mundo e afirmou que extremistas se apoiam na negação da política na tentativa de ganhar espaço, apontando que este fenômeno está atualmente acontecendo na Argentina.
No país sul-americano, o candidato de extrema-direita Javier Milei lidera as pesquisas de intenção de voto e tem afirmado que, se for eleito na eleição de outubro, não fará negócios com "comunistas" e "socialistas". Para ele, Lula é um socialista com "vocação totalitária".
(Reportagem adicional e texto de Eduardo Simões, em São PauloEdição de Pedro Fonseca e Alexandre Caverni)