Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rechaçou nesta quinta-feira, durante conversa com jornalistas, que a Rússia anexe os territórios que invadiu da Ucrânia e disse esperar acertar na China, em visita na semana que vem, a criação de um grupo de países para negociar a paz no conflito.
"Não é necessário ter guerra. O que é que o Putin quer? O Putin não pode ficar com terreno da Ucrânia. Talvez nem se discuta Crimeia. Mas o que ele invadiu de novo (em 2022). Vai ter que repensar", disse Lula.
"O (presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy também não pode querer tudo que ele pensa que vai querer. A Otan não vai poder se instalar na fronteira. Então tudo isso é assunto que a gente vai ter que colocar na mesa", seguiu o presidente.
O brasileiro disse esperar avanços na criação de um grupo de países para negociar o fim da guerra, iniciativa que ele vem defendendo desde que assumiu o cargo: "Quando eu voltar da China, eu espero poder dizer: 'está criado o grupo que vai discutir a paz".
As declarações, duras com a posição da Otan respaldada por EUA e Europa, mas também com a Rússia, acontecem dias depois de Lula enviar seu conselheiro de política externa, Celso Amorim, a Moscou --o ex-chanceler teve um almoço com Putin.
A intenção era avaliar as chances de sucesso da proposta brasileira de paz e o resultado, de acordo com declarações do ex-chanceler depois da viagem, foi de que há abertura, mas que os russos não vêem com otimismo a possibilidade de sucesso em quaisquer negociações.
É com este pano de fundo que a guerra será um dos temas centrais da conversa entre Lula e o presidente da China, Xi Jinping, na viagem que o brasileiro fará na próxima semana a Pequim, com a troca de impressões depois do encontro de Amorim com o presidente russo e também do próprio Xi, que esteve em Moscou há duas semanas.
Depois de um período em que evitou se envolver nas negociações em torno da guerra, a China passou a tratar do tema com mais intensidade, e chegou a apresentar um plano de 12 pontos para que se chegue a um acordo de paz.
Um dos pontos da proposta chinesa, no entanto, é de que a Rússia mantenha os territórios da Ucrânia ocupados na invasão, Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia --Vladimir Putin assinou formalmente a anexação dos quatro--, justamente o ponto que Lula disse não concordar.
Nesta quarta-feira, horas antes das declarações de Lula, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, foi também perguntado se o Brasil concordava com as propostas chinesas, e ele defendeu que o plano de Pequim seja analisado com cuidado.
"Têm coisas ali que nós estamos plenamente de acordo, como por exemplo iniciar negociações com cessações de hostilidades. Eu acho que são coisas que são mais do que plausíveis, que se pode fazer", afirmou.
Questionado especificamente sobre a áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia, foi mais comedido que Lula. Disse que o Brasil não se intrometeria para dizer o que precisa devolver ou não, que seria parte das negociações de paz entre os dois países.
Mauro Vieira disse ainda que o Brasil está disposto a participar de quaisquer esforços coletivos, sejam mesas de negociações formais ou contatos informais, para a paz entre Rússia e Ucrânia, desde que as condições básicas sejam o cessar das hostilidades.
"Evidentemente que o Brasil está pronto, como esteve antes, a participar de qualquer esforço coletivo para trazer as partes a uma mesa de negociação, ou se não for uma coisa tão formal, algum tipo de contato. Da mesma forma que já fizemos em outras ocasiões", disse o chanceler.
"Nós não estamos com uma proposta concreta, estamos ouvindo, estamos dizendo que estamos disponíveis. Porque falamos com os dois lados", continuou Vieira.