Por Lisandra Paraguassu e Bernardo Caram
SÃO PAULO (Reuters) - O futuro ministro da Defesa José Múcio Monteiro disse nesta sexta-feira que levou a Luiz Inácio Lula da Silva indicações para os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e o presidente eleito destacou que "as Forças Armadas não foram feitas para fazer política".
Após ter seu nome confirmado por Lula para o cargo, Múcio explicou que o critério adotado para a escolha dos comandantes foi o tradicional, de antiguidade.
"O sistema é o seguinte: o mais velho de cada Força. No caso da Marinha, o mais velho vai para o comando do Estado-Maior --que tem um revezamento entre as Forças e está na vez da Marinha-- e o segundo mais velho vai para o comando da Marinha", disse.
O futuro ministro indicou o general Júlio César de Arruda para comandar o Exército, o almirante de esquadra Marcos Sampaio para a Marinha e o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno para a Aeronáutica, além do almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire para o comando do Estado-Maior das Forças Armadas.
Em entrevista coletiva em Brasília, Lula disse, ao anunciar também outros nomes para seu ministério, que as Forças Armadas têm uma missão nobre e que teve uma relação "extraordinária" com os militares na primeira vez que governou o país.
"Eu fui presidente oito anos, eu tive uma relação com as Forças Armadas que foi, do meu ponto de vista, extraordinária, eles nunca me criaram nenhum problema, possivelmente eu tenha sido o presidente que mais recuperou as condições econômicas e necessidades estratégicas das Forçar Armadas", disse Lula em entrevista coletiva em Brasília.
"Nós vamos continuar fazendo mais porque as Forças Armadas têm um papel importante, as Forças Armadas têm um papel constitucional, elas têm que cuidar da soberania nacional, elas têm que defender o povo brasileiro de possíveis e eventuais inimigos externos e é para isso. As Forças Armadas não foram feitas para fazer política, não foram feitas para ter candidato. Quem quiser ser candidato se aposenta e seja candidato", disse Lula.
O atual presidente Jair Bolsonaro, capitão do Exército na reserva, nomeou um número sem precedentes de militares para cargos tradicionalmente civis no governo, incluindo para o comando do Ministério da Defesa.
Múcio colocará fim a um período de quase cinco anos em que generais do Exército comandaram a pasta da Defesa. Este ciclo foi iniciado no governo Michel Temer e, desde então, quatro generais comandaram a pasta. A posse de Múcio em janeiro significará a volta do ministério a mãos civis.
"Eu tenho certeza que não poderia haver ninguém mais preparado para cuidar da Defesa do que o companheiro José Múcio", disse Lula.
"Eu tenho certeza que ele dará conta do recado e eu tenho certeza que as Forças Armadas irão cumprir aquilo que é a missão principal delas: cuidar da segurança desse país."
Visto como um articulador hábil e com trânsito fácil em todo o espectro político, Múcio terá como missão principal no novo posto distensionar as relações com a caserna já que, no período de Bolsonaro, militares convidados a acompanharem o processo eleitoral chegaram a fazer eco aos questionamentos infundados que o atual presidente faz das urnas eletrônicas.
(Reportagem adicional de Ricardo Brito)