(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que escolherá o próximo Procurador-Geral da República "no momento certo" e com mais "critério e pente fino", após perder a confiança no Ministério Público devido às ações tomadas pela força-tarefa do órgão no âmbito da operação Lava Jato.
"Vou escolher (o próximo PGR) no momento certo e na hora certa. Vou conversar com muita gente, vou ouvir muita gente, vou atrás de informações... Tudo isso é um problema meu e quando eu tiver um nome, eu indico", disse Lula durante live semanal em suas redes sociais.
"Eu sempre tive o maior respeito pelo Ministério Público. Depois dessa quadrilha que o (chefe da força-tarefa, Deltan) Dallagnol montou, eu perdi muito a confiança. Eles fizeram a sociedade refém por muito tempo. Então, obviamente, eu vou escolher com mais critério e pente fino para não cometer um erro", acrescentou.
Desde o início do mandato, o presidente tem sinalizado que não manterá a prática adotada em seu primeiro mandato de indicar para PGR um nome da lista tríplice elaborada em eleição organizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), que representa os membros do Ministério Público Federal (MPF). Em seus dois mandatos, Lula escolheu o mais votado pela categoria.
Em março, Lula disse que escolher um PGR pela lista tríplice "nem sempre resolve o problema" e que não consideraria os nomes mais votados pelos procuradores da República devido à "irresponsabilidade" da força-tarefa da Lava-Jato.
O mandato do atual procurador-geral, Augusto Aras, termina em setembro deste ano. Ele foi indicado ao cargo duas vezes pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A escolha do próximo PGR têm levantando discordâncias entre membros do governo, com alguns elogiando abertamente a atuação de Aras no cargo, enquanto outros indicam a necessidade de um novo nome desvinculado ao governo anterior.
No mês passado, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse reconhecer o trabalho que Aras fez para restituir a "normalidade" após o uso do "ativismo judicial" da Lava Jato para "perseguir" pessoas.
Lula esteve entre os condenados pela Lava Jato, sendo preso por 580 dias entre abril de 2018 e novembro de 2019 pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Suas condenações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2021. A corte apontou "incompetência" da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba para julgar os processos envolvendo Lula.
Por outro lado, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou na semana passada que a indicação de Aras para um novo mandato seria "um desastre". Aras é criticado por não dar andamento a investigações contra Bolsonaro e aliados após as apurações da CPI da Covid, na qual Tebet teve papel de destaque enquanto senadora.
Quando Lula definir o indicado à PGR, caberá ao Senado sabatinar o escolhido e aprovar o nome em plenário.
OTIMISMO ECONÔMICO
Na live, Lula disse que está "muito confiante" com os dados recentes sobre a economia brasileira e que o Produto Interno Bruto (PIB) do país vai crescer acima de todas as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Eu sou mais otimista... Eu estava em Hiroshima e falei para a diretora-geral do FMI 'você vai se surpreender com o Brasil. É bom vocês não ficarem citando números do Brasil'. O Brasil vai crescer mais do que as previsões do FMI", disse.
Ele ainda afirmou que a melhora da situação econômica não é "um milagre" e vai elevar o otimismo das pessoas, mas que a riqueza gerada precisa circular e ser distribuída por toda a população.
"Nós vamos colher muita coisa nesse país, porque nós plantamos corretamente, estamos adubando corretamente e o dinheiro vai circular na mão de milhões de brasileiros."
O presidente anunciou que no próximo dia 11 vai ao Rio de Janeiro para o lançamento da 3ª versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Na semana passada, o FMI melhorou com força sua estimativa para o crescimento da economia do Brasil neste ano depois do forte desempenho no primeiro trimestre, subindo para 2,1% a previsão para o crescimento do PIB de 2023, ante 0,9% na análise anterior.
O final de julho ainda trouxe a melhora da nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch, elevando a "BB (BVMF:BBAS3)", contra "BB-" antes. De acordo com relatório da Fitch, essa elevação reflete desempenhos macroeconômico e fiscal melhores que o esperado.
(Por Fernando Cardoso)