Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá uma reunião bilateral nesta semana com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tendo no radar a polêmica disputa do país com a Guiana pela região do Essequibo e também as eleições gerais venezuelanas, prometidas para este ano.
Duas fontes ouvidas pela Reuters explicaram que uma das principais preocupações do presidente brasileiro é ter a garantia de Maduro de que, em ano eleitoral, a Venezuela vai manter sob controle a retórica sobre o Essequibo, agora que a temperatura da disputa diminuiu.
"O foco é que essa questão seja mantida nos trilhos. O objetivo é manter em banho-maria e não deixar o calendário eleitoral contaminar o diálogo", disse uma das fontes, que acompanhará o presidente na viagem a Guiana e a São Vicente e Granadinas, que começa na quarta-feira.
Lula viajará aos dois países para participar do encerramento de reunião da Comunidade do Caribe (Caricom) e da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Ele também terá uma bilateral com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, às margens dos encontros.
No final do ano passado, depois de uma conversa de Lula com Maduro, o Brasil passou a mediar uma negociação entre Guiana e Venezuela. Apesar de não haver solução à vista para a disputa, a oratória venezuelana, que inicialmente continha ameaça de uso da força e movimentação de tropas, esfriou.
Nos últimos meses, quatro reuniões de negociações já foram feitas e, se não avançaram em soluções, serviram para voltar à diplomacia. A preocupação de Lula é que, com as possíveis eleições venezuelanas, o tom possa subir novamente.
"O objetivo é manter as divergências em um padrão seguro, não se permitir que se crie situações perigosas que um deslize leve a um conflito", disse a fonte.
ELEIÇÕES
Outra questão que deve entrar na conversa dos dois presidentes são as eleições na Venezuela, que devem ser marcadas para este ano. No acordo entre governo e oposição, intermediado pelos Estados Unidos com a participação do Brasil, um dos requisitos é de que o governo Maduro marcasse as eleições para o segundo semestre deste ano, definindo a data com pelo menos seis meses de antecedência.
O chamado acordo de Barbados também previa a habilitação de candidatos da oposição para as eleições. No final de janeiro, no entanto, a líder oposicionista María Corina Machado teve sua candidatura barrada pela Supremo Corte, em um movimento que levantou alertas na oposição.
A avaliação do governo brasileiro é que, por enquanto, há sinais para preocupação -- daí a intenção de Lula de conversar com Maduro para garantir que o acordo será cumprido -- mas ainda não para alarme.
Lula embarca na manhã de quarta-feira para a Guiana, onde fala no encerramento da Caricom no início da tarde. Na quinta tem o encontro com o presidente da Guiana e embarca para São Vicente. A bilateral com Maduro está prevista para sexta-feira.