Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dobrou a aposta nesta sexta-feira e reafirmou que o governo de Israel comete genocídio contra o povo palestino na atual guerra na Faixa de Gaza, reiterando ainda sua posição contra qualquer guerra, seja no Oriente Médio ou na Ucrânia.
O presidente aproveitou ainda para reforçar sua defesa pela solução de dois Estados para o conflito.
"Eu quero dizer para vocês agora: eu não troco a minha dignidade pela falsidade. E quero dizer para vocês que sou favorável à criação do Estado palestino livre e soberano, que possa esse Estado palestino viver em harmonia com o Estado de Israel", disse o presidente, em evento da Petrobras (BVMF:PETR4) no Rio de Janeiro.
"E quero dizer mais: o que o governo de Israel está fazendo contra o povo palestino não é guerra; é genocídio", destacou.
Lula esteve envolvido em polêmica no domingo passado, quando, em entrevista coletiva após o brasileiro participar da 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, em Adis-Abeba, na Etiópia, comparou a ação das forças militares de Israel na Faixa de Gaza com o que o ditador alemão Adolf Hitler fez contra os judeus na 2ª Guerra Mundial, disparando forte reação de autoridades israelenses, desencadeando uma crise diplomática com o país do Oriente Médio. Para os israelenses, Lula "banalizou" o ocorrido com os judeus na 2ª Guerra ao fazer a comparação.
Nesta sexta, voltou a fazer duras críticas a Israel.
"O que está acontecendo em Israel é um genocídio: são milhares de crianças mortas, milhares desaparecidas. E não está morrendo soldado; estão morrendo mulheres e crianças dentro do hospital. Se isso não é genocídio, eu não sei o que é genocídio", reforçou.
Durante a semana, autoridades e perfis oficiais do governo israelense publicaram mensagens em redes sociais consideradas "inaceitáveis" e "mentirosas" pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, acrescentando que elas configuram uma "cortina de fumaça" para mascarar o isolamento crescente de Israel.
Os embaixadores dos dois países foram convocados para esclarecimentos, e o governo brasileiro acabou chamando ao Brasil o seu principal diplomata em Israel.
Lula aproveitou o evento no Rio também para colocar em xeque afirmações do governo israelense.
"Não tente interpretar a entrevista que eu dei na Etiópia. Leia a entrevista. Leia a entrevista ao invés de ficar me julgando pelo que diz o primeiro-ministro de Israel", referindo-se a postagem em que o perfil oficial do governo israelense no X afirma que Lula teria negado o Holocausto, o que não ocorreu.
O presidente também não deixou de citar o pleito brasileiro por mais representatividade no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), lembrando que um projeto de resolução propondo um cessar-fogo em Gaza não pôde ser aprovado por conta do poder de veto de membros permanentes.
Ao comentar os dois conflitos armados em evidência atualmente, Lula criticou a "hipocrisia" da classe política, e reafirmou a posição brasileira contrária a guerras em geral.
"A gente não pode aceitar a guerra da Ucrânia, como não pode aceitar a guerra da Faixa de Gaza, como não pode aceitar nenhuma guerra. Esse país não tem contencioso, a gente gosta de paz."
O conflito teve início quando combatentes do grupo militante palestino Hamas invadiram cidades israelenses em 7 de outubro, matando 1.200 pessoas e fazendo 253 reféns, de acordo com registros israelenses. Desde então, a campanha militar israelense em Gaza já matou mais de 29.000 palestinos, segundo autoridades de saúde do enclave governado pelo Hamas.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; reportagem adicional de Maria Carolina Marcello, em Brasília)