NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira durante discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que há um risco de golpe contra o presidente eleito da Guatemala, Bernardo Arévalo, e disse que o Brasil seguirá denunciado o embargo dos Estados Unidos a Cuba e a tentativa de classificar o país como patrocinador do terrorismo.
"Na Guatemala, há o risco de um golpe, que impediria a posse do vencedor de eleições democráticas", disse Lula.
Na semana passada, a equipe do procurador-geral da Guatemala invadiu instalações eleitorais e abriu cédulas lacradas da eleição, na qual Arévalo e seu partido Semilla, que é contra a corrupção, venceram por esmagadora maioria. Os promotores alegam irregularidades no registro dos membros do Semilla antes da votação, o que foi negado pelo partido.
O embaixador dos EUA na Organização dos Estados Americanos, Francisco Mora, pediu às autoridades guatemaltecas, na segunda-feira, que parassem com seus "esforços de intimidação" contra os funcionários eleitorais e membros do partido de Arévalo.
Mora chamou a operação de "um ataque ao estado de direito".
Em seu próprio discurso na ONU, na terça-feira, o presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, criticou a "interferência estrangeira desnecessária" no processo eleitoral e reiterou seu compromisso com a transferência de poder.
"Ao contrário da falta de verdade que ouvimos hoje desta tribuna, entregarei o poder à (pessoa) que foi eleita pela vontade majoritária soberana do povo da Guatemala em 14 de janeiro, quando meu mandato constitucional terminar", disse Giammattei.
Na semana passada, Arévalo suspendeu sua participação na transição de poder até que "as condições institucionais (e) políticas necessárias sejam restabelecidas".
Os comentários de Lula sobre a Guatemala foram surpreendentemente alinhados com Washington, para um líder que nem sempre tem estado em linha com os Estados Unidos. A declaração sobre Cuba deixou essas diferenças claras.
"O Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na Carta da ONU, como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo", disse Lula em seu discurso.
"Continuaremos críticos a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria", acrescentou.
(Reportagem da Reuters em Nova York e de Brad Haynes e Eduardo Simões, em São Paulo)