Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de mais de uma hora de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, ganhou uma sobrevida no cargo, mas, de acordo com fontes palacianas, não há uma decisão definitiva sobre sua permanência.
A informação oficial, dada pela Secretária de Comunicação da Presidência após o encontro, é de que a ministra fica e participa na quinta-feira de reunião ministerial a ser conduzida por Lula.
No entanto, fontes do Palácio do Planalto disseram à Reuters que a decisão de hoje não é uma definição pela permanência de Daniela, e sua saída ainda está na pauta.
O cargo está sendo pedido pelo União Brasil, depois que Daniela sinalizou que irá deixar a legenda. A ministra foi nomeado por Lula com apoio do UB, mas agora a bancada da legenda na Câmara fechou questão em torno do nome do deputado Celso Sabino (UB-PA) para o ministério.
A ministra chegou ao cargo como integrante do UB, mas, principalmente, pela atuação de seu marido, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner Carneiro (Republicanos), que apoiou Lula na eleição do ano passado. De acordo com uma fonte, a ideia inicial era que o Republicanos apadrinhasse a indicação de Daniela, mesmo ela estando no UB, mas o partido decidiu não fazer parte do governo Lula. Ao ameaçar deixar o União e sem o apoio do Republicanos, Daniela ficou sem padrinho no governo e sem entregar os votos que o governo precisa no Congresso.
Após a informação oficial da manutenção de Daniela, o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), disse à Reuters que os cargos de ministro são do presidente e ele quem decide eventuais trocas. O líder rejeitou uma eventual retaliação ao governo diante da não mudança na pasta. "Continuaremos votando o que for importante para o país", assegurou.
No Planalto, a troca é dada como certa de qualquer maneira. O próprio ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, admitiu que a mudança deve ser feita e atribuiu a uma questão interna do partido.
"Está na pauta, o partido vem apresentando vontade de reformular a indicação de seus três ministros, o presidente pediu que negociássemos isso com o partido", disse Padilha na segunda-feira, depois de reunião de coordenação com Lula.
A mudança, no entanto, traz também outros problemas que o governo vai ter que solucionar. Um deles é a relação com Waguinho, com quem Lula vê uma dívida de gratidão pelo apoio eleitoral em uma região, a Baixada Fluminense, dominada pelo bolsonarismo. De acordo com uma fonte palaciana, é possível que o governo encontre uma forma de encaixar o grupo político de Waguinho em cargos de segundo escalão.
O outro problema é o apetite do UB, que quer mais poder em troca dos votos que afirma poder entregar no Congresso. O partido tem 59 deputados, mas hoje boa parte não vota com o governo. Uma maioria votou pelo arcabouço, mas também ajudou a derrubar o decreto de saneamento básico, de interesse do governo.
Fontes disseram à Reuters que, apesar de o partido estar decidido sobre a troca no Ministério do Turismo, o UB quer mais. A reclamação é que a pasta está esvaziada sem seu principal ativo, a Embratur, hoje com Marcelo Freixo (PSB). Ao mesmo tempo, o partido não promete se tornar oficialmente base do governo e, apesar de três ministérios, quer se manter independente.