Por Alvise Armellini
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O Papa Francisco abre nesta quarta-feira uma cúpula global de bispos sobre questões potencialmente importantes para a Igreja Católica, incluindo o papel das mulheres e a atitude da instituição em relação às pessoas LGBT.
A reunião, que acontece entre 4 e 28 de outubro, conhecida como Sínodo, provavelmente vai expor novamente as profundas divisões entre progressistas e conservadores dentro da Igreja de Francisco, que tem quase 1,4 bilhão de membros, algo constante nos dez anos de seu papado.
"É nosso dever... resistir firmemente a qualquer tentativa de mudar o ensinamento da Igreja que possa emergir desta Assembleia Sinodal", disse o padre Gerald Murray, comentarista da rede de TV católica conservadora EWTN, sediada nos EUA, em uma conferência em Roma na terça-feira.
O encontro reúne 365 “membros” com direito a voto, incluindo pela primeira vez 54 mulheres, assim como cerca de 100 outros participantes, como observadores e delegados de outras Igrejas cristãs.
Os conservadores atacaram o conceito deste Sínodo, dizendo que qualquer discussão sobre questões doutrinárias deveriam vir de cima e que os leigos, que não são ministros ordenados, não deveriam ter um peso nos debates.
As discussões acontecem a portas fechadas e foram precedidas por um exercício de campanha de dois anos, no qual os católicos comuns foram convidados a partilhar sua visão para o futuro da Igreja.
Um documento de trabalho resultante deste processo centra-se na forma como a Igreja pode ser mais acolhedora para com as mulheres, os migrantes, os sobreviventes de abusos sexuais clericais, os divorciados e as vítimas das mudanças climáticas e da injustiça social.
Para desgosto dos conservadores, o documento não menciona explicitamente o aborto, a eutanásia e a defesa da família tradicional.
O Sínodo começa com uma missa papal na Praça de São Pedro. As discussões acontecerão durante este mês e serão retomadas em outubro de 2024. Um documento papal seguirá o encontro, muito provavelmente em 2025, o que significa que se houver mudanças no ensinamento da Igreja, elas ainda estão distantes.
Na segunda-feira, cinco cardeais conservadores de Ásia, Europa, África, Estados Unidos e América Latina disseram que pediram a Francisco que reafirmasse a ortodoxia da Igreja, enviando-lhe cinco perguntas formais conhecidas como “dubia”.
Francisco respondeu às perguntas dos cardeais, mas eles não ficaram satisfeitos com suas respostas. Em uma delas, o papa sugeriu a possibilidade de permitir que os padres abençoassem casais do mesmo sexo, caso a caso.
(Reportagem de Alvise Armellini na Cidade do Vaticano)