Por Lisandra Paraguassu e Eduardo Simões
(Reuters) - O petista Marcelo Arruda, um guarda municipal, foi assassinado durante sua festa de aniversário em Foz de Iguaçu (PR) na noite de sábado por Jorge José da Rocha Guaranho, policial penal federal.
Segundo boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil do Paraná e testemunhas no local, Guaranho teria aparecido na festa --que tinha como tema o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acontecia na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu (Aresfi)-- apontando uma arma ao mesmo tempo que gritava insultos aos presentes e palavras a favor do presidente Jair Bolsonaro (PL), pré-candidato à reeleição.
Guaranho deixou o local a pedidos de sua mulher, dizendo que voltaria, o que de fato ocorreu pouco depois, quando disparou contra Arruda, que a essa altura estava com sua arma funcional e reagiu atingindo Guaranho.
"Nós estávamos na festa, que era temática do PT, isso por volta das 11h e meia (23h e meia) mais ou menos, 11h, apareceu um cara que nem era convidado, que ninguém conhece, veio com o carro até a frente e começou a gritar de dentro do carro 'É Bolsonaro... seus desgraçados, é mito', começou a gritar coisa do Bolsonaro, de dentro do carro", relatou Aluízio Palmar.
Segundo Palmar, Guaranho deixou o local após pedidos da mulher, prometendo voltar, e retornou cerca de 20 minutos depois.
"O cara voltou e quando ele chegou apontou a arma pro Marcelo e o Marcelo falou 'para, polícia!', disse Palmar, acrescentando que depois disso Guaranho disparou contra Arruda, que ainda conseguiu acertar o policial penal federal.
Inicialmente, a Polícia do Paraná chegou a informar que Guaranho também havia morrido, mas nota da Secretaria de Segurança Pública do Paraná, no final da tarde, informava que o policial penal estava internado em estado grave.
"A Polícia Civil está investigando a morte do guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda. Ele e o policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho se desentenderam durante a festa de aniversário de Arruda. Os dois acabaram baleados, Guaranho segue internado em estado grave", diz a nota da secretaria.
Também em nota, o PT lamentou a morte de Arruda, que foi candidato a vice-prefeito de Foz do Iguaçu em 2020, e a violência política.
"Mais um querido companheiro se foi nessa madrugada, vítima da intolerância, do ódio e da violência política", afirmam na nota a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o coordenador nacional do setorial de Segurança Pública do PT, Abdael Ambruster.
"Embalados por um discurso de ódio e perigosamente armados pela política oficial do atual presidente da República, que estimula cotidianamente o enfrentamento, o conflito, o ataque a adversários, quaisquer pessoas ensandecidas por esse projeto de morte e destruição vêm se transformando em agressores ou assassinos", acrescenta a nota.
"Cobramos das autoridades de segurança pública medidas efetivas de prevenção e combate à violência política, e alertamos ao Tribunal Superior Eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal para que coíbam firmemente toda e qualquer situação que alimente um clima de disputa violenta fora dos marcos da democracia e da civilidade."
No Twitter, Lula se solidarizou com a família e amigos de Arruda e pediu compreensão sobre Guaranho.
"Uma pessoa, por intolerância, ameaçou e depois atirou nele (Arruda), que se defendeu e evitou uma tragédia maior... Meus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos e companheiros de Marcelo Arruda", tuitou o ex-presidente.
"Também peço compreensão e solidariedade com os familiares de José da Rocha Guaranho", acrescentou.
Bolsonaro também comentou o episódio nas redes sociais.
"Independente das apurações, republico essa mensagem de 2018:
Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos", disse Bolsonaro no Facebook (NASDAQ:META).
"Que as autoridades apurem seriamente o ocorrido e tomem todas as providências cabíveis, assim como contra caluniadores que agem como urubus para tentar nos prejudicar 24 hora por dia", acrescentou.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por sua vez, afirmou que o episódio mostra "como é viver na barbárie".
"O assassinato de um cidadão, durante a comemoração de seu aniversário com a temática do candidato Lula, é a materialização da intolerância política que permeia o Brasil atual e nos mostra, da pior forma possível, como é viver na barbárie", disse Pacheco no Twitter.
"Devemos todos, especialmente os líderes políticos, lutar para combater este ódio, que vai contra os princípios básicos da vida em família, em sociedade e em uma democracia", acrescentou.
(Reportagem adicional de Ana Mano e Ricardo Brito)