Por Andrew Osborn e Dmitry Antonov
MOSCOU (Reuters) - O presidente russo, Vladimir Putin, assinou nesta segunda-feira um decreto reconhecendo duas regiões separatistas no leste da Ucrânia como independentes, intensificando uma crise que o Ocidente teme que possa resultar em uma guerra.
Putin assinou o decreto em uma cerimônia exibida na televisão estatal, acompanhado pelos líderes separatistas das duas regiões.
A medida de Moscou deve acabar com uma iniciativa de última hora do presidente norte-americano, Joe Biden, de se reunir com Putin para impedir que a Rússia realize uma invasão da Ucrânia.
A moeda russa, o rublo, estendeu suas perdas enquanto Putin falava sobre a questão, caindo 3,3% no dia em relação ao dólar.
Putin fez um longo pronunciamento televisionado e voltou na História até os tempos do Império Otomano, chegando até as atuais expansões da Otan para o leste -- um importante fator de irritação de Moscou na atual crise.
Putin descreveu a Ucrânia como uma parte integral do passado da Rússia, que nunca teve uma tradição genuína própria de Estado. Ele disse também que o leste do país cobre terras russas antigas.
"Se a Ucrânia fosse se unir à Otan, isso seria uma ameaça direta à segurança da Rússia", disse o líder russo.
Putin trabalha há anos para retomar a influência da Rússia sobre países que emergiram após o colapso da União Soviética, com a Ucrânia detendo um lugar importante em suas ambições.
A Rússia nega qualquer plano de atacar sua vizinha, mas já ameaçou ações "militares-técnicas" não especificadas a não ser que receba garantias amplas de segurança, incluindo uma promessa de que a Ucrânia nunca irá participar da Otan.
O reconhecimento das áreas rebeldes pode pavimentar o caminho para que Moscou envie forças militares para as duas regiões separatistas --Donetsk e Luhansk-- argumentando abertamente de que está intervindo como aliada para protegê-las da Ucrânia.
A União Europeia já alertou sobre sanções do bloco de 27 países caso Moscou realize a anexação ou o reconhecimento das regiões separatistas no leste da Ucrânia, amplamente controladas por separatistas russos.
O eventual reconhecimento da independência das regiões rebeldes por Moscou deve estreitar as opções diplomáticas para evitar a guerra, já que essa é uma postura que rejeita explicitamente um acordo de cessar fogo de sete anos mediado por França e Alemanha e elogiado como o caminho para negociações futuras em uma crise mais ampla.
Separadamente, Moscou afirmou que sabotadores militares da Ucrânia tentaram adentrar o território russo em veículos blindados deixando cinco mortes, uma acusação dispensada como "notícia falsa" por Kiev.
Ambos os desenvolvimentos seguem um padrão previsto por repetidas vezes por governos ocidentais, que acusam a Rússia de se preparar para fabricar um pretexto para invadir a Ucrânia culpando Kiev pelos ataques, e se apoiando em pedidos de ajuda de aliados separatistas.
(Reportagem das redações da Reuters)