Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Mais de seis anos depois de deixar o cargo de ministro das Relações Exteriores em meio ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o embaixador Mauro Vieira voltará ao comando do Itamaraty para encerrar no posto mais alto uma carreira de 48 anos.
Atual embaixador na Croácia, aos 71 anos Vieira está a um mandato presidencial da aposentadoria compulsória dos servidores públicos --aos 75 anos-- e já ocupou alguns dos cargos mais prestigiados da diplomacia.
Foi o embaixador do Brasil em Buenos Aires entre 2004 e 2010, em Washington entre 2010 e 2015, quando foi chamado por Dilma Rousseff para ser seu terceiro chanceler. Ao deixar o cargo, em maio de 2016 com o impeachment da ex-presidente, foi indicado por Michel Temer para ser o representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), entre 2016 e 2020.
No atual governo, foi enviado para a Croácia, um posto de pouco prestígio diplomático, onde está até o momento.
Advogado formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Vieira se formou no instituto Rio Branco, a academia preparatória do Itamaraty, em 1974. É considerado pelos colegas como um embaixador habilidoso e bom negociador, com bom trânsito no Congresso, além de ser, hoje, um dos nomes mais experientes em atividade.
Em 2015 foi convidado por Dilma para assumir a chancelaria brasileira justamente por sua experiência, em substituição ao ministro anterior, Luiz Alberto Figueiredo, levado ao cargo pela simpatia da então presidente, mas considerado inexperiente para a posição.
Dentro do ministério, apesar de ser respeitado, Vieira enfrenta críticas das diplomatas por ter promovido menos mulheres aos cargos mais altos do que seus antecessores.
Durante o tempo em que esteve no posto, Vieira teve um bom relacionamento com Dilma, mas incorreu na antipatia da presidente por ter sido, na época, o único dos seus ministros que fez a transmissão de cargo para seu sucessor, o senador José Serra, indicado por Michel Temer.
Ao anunciar seu nome, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembrou ter dito sempre um ótimo relacionamento com Vieira durante o seu governo. O embaixador é um dos nomes próximos do ex-chanceler de Lula, Celso Amorim, hoje seu principal conselheiro para temas internacionais e quem deu aval ao nome de Vieira.
No anúncio nesta sexta, Lula citou Amorim, afirmando que a política externa tem de voltar a ser "ativa e altiva", o lema de seu ex-chanceler no Itamaraty. Amorim deverá participar do governo, como secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, com status de ministro, disseram à Reuters fontes que acompanham o processo de decisão.
Na agende Vieira, está o desafio de reposicionar o Brasil globalmente após o governo Bolsonaro romper posições tradicionais da política externa brasileira, com críticas a organismos multilaterais e alinhamento a políticas ultraconservadoras em questões de direitos humanos, liberdade religiosa e gênero.
A principal agenda deve ser a ambiental, aliada à retomada da articulação diplomática regional --incluindo a reativação da relação com a Venezuela. Na agenda de curto prazo, está a repactuação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, atualmente paralisado.
Em entrevista recente à Reuters, Amorim disse que o mundo agora é "muito mais complexo" do que na primeira passagem de Lula pelo Planalto nos anos 2000. Citou a Guerra na Ucrânia e a mudança de status da China, parceira do Brasil nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), grupo no qual defendeu a entrada da Argentina.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu. Edição de Flávia Marreiro)