(Reuters) - O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, disse em entrevista à GloboNews que viria ao Brasil se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva caso recebesse um convite oficial e "se não estivermos em um momento difícil no campo de batalha".
Na entrevista, que irá ao ar na íntegra no domingo, mas que teve alguns trechos divulgados pela emissora nesta quinta-feira, Zelenskiy afirma que não entende a razão de ainda não ter se reunido com Lula pessoalmente e que considera "errado" o fato de o encontro ainda não ter acontecido.
"Não entendo a razão de não nos reunirmos. Está errado", disse. "Ele não pode vir por causa do perigo? Está bem, eu vou até ele. Não tenho problema com isso, só o tempo que me falta, porque aqui estamos em guerra", afirmou.
Indagado se aceitaria um convite oficial de Lula para visitar o Brasil e se reunir com o presidente, Zelenskiy respondeu afirmativamente, mas ressalvou que a ida dependeria da situação da guerra na Ucrânia, invadida pela Rússia em fevereiro do ano passado.
Os dois presidentes haviam agendado um encontro presencial durante a reunião do G7, em maio, no Japão. Na ocasião, Lula disse que a reunião não ocorreu porque Zelenskiy se atrasou e não apareceu para o encontro.
Já o presidente ucraniano minimizou à época o fato de não ter se reunido com Lula e afirmou que o encontro não ocorreu devido a um problema de agenda. Indagado se estava desapontado pelo fato da reunião não ter acontecido, ele afirmou, sorrindo em entrevista coletiva, que Lula é que deve ter ficado decepcionado, provocando risadas dos repórteres.
Na entrevista à GloboNews, Zelenskiy disse que, num eventual encontro com Lula, pedirá ao presidente brasileiro que una a América Latina para que realize uma reunião com ele, buscará apoio à soberania e integridade territorial da Ucrânia e ajuda humanitária, principalmente por meio do envio de equipamento para retirar minas terrestres que ele afirma terem sido colocadas pela Rússia em campos de produção agrícola da Ucrânia.
"Ajudar a Ucrânia e assim ajudar os outros países que precisam lutar contra a fome. Isso é urgente. Ajuda humanitária, se puder -- não somente política", disse.
"Por exemplo, o processo de desminagem: para resolver esse problema precisamos de equipamentos para que nossos fazendeiros não tenham medo de morrer nos seus campos de trigo, porque foram minados pela Federação Russa. Precisamos desse equipamento especializado", acrescentou.
Zelenskiy negou que pretenda pedir a Lula o envio de armas à Ucrânia e reiterou a posição ucraniana de que negociações diplomáticas de paz só podem ocorrer após as tropas russas deixarem o território ucraniano.
"Não pretendo pedir a Lula que me dê armas. Por que faria isso? Sei que não vai me dar", disse em ucraniano, de acordo com a tradução divulgada pela emissora.
"Se a Rússia sair do nosso território soberano, a diplomacia vai entrar."
Lula chegou a irritar potências ocidentais no ano passado e também após assumir a Presidência ao afirmar que tanto a Rússia quanto a Ucrânia são responsáveis pela guerra e que o Ocidente incentiva o conflito ao enviar armas para Kiev.
Após as críticas, o presidente passou a enfatizar a posição da diplomacia brasileira de condenar a invasão da Ucrânia, mas também a imposição de sanções unilaterais à Rússia, além de defender com frequência a formação de um grupo de países sem envolvimento no conflito para buscar a realização de negociações de paz entre russos e ucranianos.
(Por Eduardo Simões)