Buenos Aires, 21 nov (EFE).- O governo da Argentina repudiou a postura do Poder Judiciário e chegou a falar em "golpismo ativo" devido à ordem de busca e apreensão de documentos da empresa que administra um hotel cuja dona é a presidente do país, Cristina Kirchner, após supostas irregularidades denunciadas pela oposição.
"Isso significa um ataque impiedoso do Poder Judiciário, uma estratégia de golpismo ativo do Poder Judiciário, um ataque sistemático ao governo nacional por denúncias falsas sem nenhum fundamento", afirmou nesta sexta-feira o chefe de Gabinete do governo, Jorge Capitanich, em entrevista coletiva.
Foi assim que ele se referiu à operação de busca e apreensão de documentos realizada nesta quinta-feira por ordem do juiz Claudio Bonadío na sede da empresa Hotesur S.A., em Buenos Aires, que gerencia o luxuoso Hotel Alto Calafate (na província de Santa Cruz, na Patagônia), da qual a presidente argentina é acionista.
"Não é preciso uma ordem de busca e apreensão. Os requerimentos judiciais podem ser feitos por solicitação formal", afirmou Capitanich, que defendeu que as operações da empresa são legais e que a Hotesur não deve documentos.
A medida foi adotada por causa de uma denúncia apresentada pela deputada opositora Margarita Stolbizer, que acusa Cristina Kirchner e outros representantes do alto escalão do governo, como o ministro da Justiça, Julio Alak, de cometer supostos crimes de violação de conduta como funcionário público e de abuso de autoridade na gestão da empresa.
Stolbizer afirma que o Hotel Alto Calafate, estabelecimento de luxo situado no centro turístico de El Calafate, pode ser um alojamento "fantasma" usado pelo casal Kirchner para fazer negócios ilícitos com o empresário Lázaro Baez, investigado pela Justiça.
"Todos sabemos que a atividade hoteleira é uma das utilizadas para a lavagem de dinheiro", disse Stolbizer à "Radio Mitre" nesta sexta-feira.
Para o chefe de Gabinete, trata-se de "uma clara perseguição política de caráter judicial e faz parte de um golpismo ativo do Poder Judiciário em prol de uma estratégia política".
Na denúncia, Stolbizer diz que a empresa deve a entrega de balanços desde 2011 e a declaração juramentada perante a Inspeção Geral da Justiça (IGJ), encarregada de fiscalizar as sociedades comerciais.
"O mais grave é que a Hotesur apresentou claramente toda a documentação comprobatória", ressaltou Capitanich, que detalhou que a apresentação perante a IGJ está "em análise, junto com outras 47.373 sociedades", em um processo de "repadronização de sociedades comerciais".
Além disso, Stolbizer também denuncia irregularidades nas declarações patrimoniais de Cristina Kirchner.
"Apresentei a análise de documentação pública. Comecei com a declaração da presidente, que declara que tem uma participação de 9 milhões de pesos (R$ 2,6 milhões) em ações da Hotesur e uma dívida de 4 milhões de pesos (R$ 1,1 milhão) com a mesma empresa. Então ela é devedora e credora de si mesma", comentou Stolbizer.
"A Hotesur faz parte das sociedades ativas. Não é necessária nenhuma ordem judicial de busca e apreensão porque a operação da empresa é clara e transparente", argumentou o chefe de Gabinete.
Esse não é o primeiro embate entre a Justiça e o governo de Cristina Kirchner, que criticou de forma direta o Poder Judiciário em várias ocasiões por diversos conflitos, como na briga com o grupo Clarín pela constitucionalidade da Lei de Meios e na luta contra o tráfico de drogas.
Durante um ato em outubro, no qual anunciou a promulgação do novo Código Civil e Comercial, a própria presidente repudiou a postura da Justiça ao afirmar que o Poder "não consegue cumprir expectativas mínimas de rapidez e eficiência".