Por Stephen Eisenhammer
MARIANA, Minas Gerais (Reuters) - A primeira reação que Eliene Almeida, diretora de uma escola municipal em Bento Rodrigues, recebeu sobre a inundação de lama que destruiu seu vilarejo foi um grito de seu marido.
A maioria dos moradores correu para locais altos após ouvir notícias sobre o rompimento de barragens da mineradora Samarco, mas ninguém dentro da escola estava ciente de que uma muralha de 20 metros de lama e água estava se aproximando.
O marido de Eliene correu para a escola e alertou todos.
"Ele chegou gritando que tínhamos que correr", disse Eliene à Reuters, em um hotel que está recebendo sobreviventes do desastre ocorrido na quinta-feira no distrito do município mineiro de Mariana.
Desesperada, ela reuniu as crianças, na maioria com idades entre 11 e 16 anos. "Em três minutos todos já estavam fora", disse.
A inundação matou pelo menos quatro pessoas e nesta segunda-feira -quatro dias depois do desastre- 25 pessoas ainda estão desaparecidas. Mas todos os 58 alunos de Eliene sobreviveram.
Vestindo calças vermelhas e uma camiseta roxa, ela segurava seu filho de um ano e seis meses no parque infantil do hotel, enquanto recordava calmamente a retirada dos alunos.
A perna de seu filho estava em um gesso, após sofrer um tombo no hotel. "Ele está se acostumando com a casa nova", disse Eliene, de 31 anos, esboçando metade de um sorriso.
Pouco restou da escola que era o orgulho do vilarejo de 600 habitantes. Somente o telhado está visível, o resto está submerso em espessa camada de lama e resíduos de minério de ferro das barragens da Samarco, pertencente às gigantes BHP Billiton e Vale.
A falta de uma sirene ou de um plano de emergência para a retirada dos vilarejos próximos às barragens é uma queixa constante dos que foram atingidos pelas inundações, e algo que procuradores dizem que vão questionar.
Um relatório de 2013 de um procurador estadual alertou sobre sérios problemas de segurança na barragem da Samarco. De acordo com o relatório, um plano de emergência deveria ter sido criado para Bento Rodrigues, com exercícios práticos, como condição para a renovação da licença para a barragem. Os moradores dizem que tal plano nunca foi formulado.
O prefeito de Mariana, Duarte Junior, que foi levado para um hospital no domingo por suspeita de um ataque cardíaco por conta da falta de sono e estresse desde o acidente, chamou Eliene de "heroína".
"Não vejo assim", disse a diretora da escola, encolhendo os ombros. "Qualquer um teria feito o mesmo".
Ela disse que foi sorte a inundação ter ocorrido à tarde, quando os alunos mais velhos, que conseguem se mover mais rapidamente, estavam em aula.
Outro fator positivo era o tamanho grande dos portões de entrada, que permitiram a fuga das pessoas. "Poderia ter sido muito pior", afirmou.
Eliene espera que uma nova escola seja aberta, e diz que é importante que as crianças voltem a ter aulas. Mesmo assim, diz ela, as coisas nunca mais serão as mesmas.
"Você pode construir uma escola nova, mas todo o trabalho que ocorreu naquela escola em Bento, o que significava para a comunidade, foi embora para sempre", acrescentou.