Por James Mackenzie
CATNIA, Itália (Reuters) - Promotores italianos culparam o capitão de um barco de pesca grosseiramente superlotado pelo naufrágio de sua embarcação próxima ao litoral da Líbia, no qual centenas de migrantes se afogaram, incluindo muitas mulheres e crianças encurraladas nos compartimentos mais profundos do barco.
Os poucos sobreviventes da tragédia, ocorrida no domingo, disseram aos investigadores que os Imigrantes de África e Bangladesh haviam esperado por até um mês na Líbia, assim como outras milhares de pessoas, tentando escapar da guerra e da pobreza, para que seu barco saísse em direção à Europa.
Um sobrevivente disse que, ao tentar ir ao banheiros, foi castigado por traficantes de humanos. O grande número de vítimas entre imigrantes, que pagam centenas de dólares na esperança de atravessar o Mediterrâneo, colocou líderes europeus sob pressão para responder efetivamente ao aumento dramático das mortes.
Só 28 sobreviventes foram levados à Itália entre as centenas que se encontravam a bordo do barco de pesca. O total de mortos ficou entre 400 e 950, segundo a polícia, talvez o pior desastre na travessia de imigrantes do norte da África para a Europa.
A polícia italiana prendeu um tunisiano de 27 anos, identificado como Mohammed Ali Malek, que poderia ser o capitão da embarcação. Ele pode ser acusado por múltiplos homicídios, assim como por tráfico de humanos e por provocar um naufrágio.
Promotores dizem que, com o barco em sérias dificuldades, o capitão tentou subir a um navio comercial português que havia se aproximado para dar auxílio, colidindo com a outra embarcação muito maior. O gabinete da promotoria de Catânia disse que nenhuma culpa foi atribuída ao navio português.
Além do capitão, os promotores de Catânia também prenderam Mahmud Bikhit, um sírio de 25 anos que acredita-se ter sido o principal auxiliar do capitão, e acusado por tráfico de humanos.
Com o relato das testemunhas, um sombrio retrato começou a ser feito sobre as condições da viagem, em que centenas de homens, mulheres e crianças ficaram presos no barco de pesca de 20 metros de comprimento por mais de 48 horas antes do desastre.
O número de sobreviventes foi pequeno porque a maior parte das pessoas, incluindo cerca de 200 mulheres e 50 crianças, foram trancadas no compartimento inferior da embarcação de três andares, disse Giovani Salvi, chefe da promotoria da Catânia.
Isso também tornou impossível o resgate dos corpos até o momento, assim como a verificação do número de mortos, embora os investigadores ainda possam tentar resgatar o barco naufragado.
Os promotores disseram que os sobreviventes contaram ter pago entre 500 e 1000 dinares líbios (420 a 840 dólares) pela viagem, e que foram mantidos numa edifício rural nos arredores de Trípoli por até um mês antes da partida do barco.
O presidente francês, François Hollande, comparou os traficantes de humanos a terroristas e disse que os líderes da UE terão que reagir com decisão ao se reunirem emergencialmente.
Cerca de 1.800 migrantes morreram afogados neste ano, comparados a menos de 100 entre janeiro e abril do ano passado.
A Guarda Costeira italiana disse que 638 migrantes foram resgatados de botes infláveis na segunda, em seis operações, e que outras 112 pessoas foram resgatadas nesta terça. Barcos mercantes e de patrulha Guarda Costeira também prestaram auxílio a um barco de pesca que transportava migrantes perto do litoral da Calábria, na Itália. Todas as 446 a bordo foram resgatadas.