Por Laila Bassam e Andrew Osborn
BEIRUTE/MOSCOU (Reuters) - Centenas de soldados iranianos chegaram à Síria para se juntar a uma grande ofensiva terrestre em apoio ao governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, disseram fontes libanesas nesta quinta-feira, numa indicação de que a guerra civil se tornará cada vez mais um assunto de escopo regional e global.
Aviões de guerra russos, em um segundo dia de ataques, bombardearam um acampamento mantido por rebeldes treinados pela CIA, disse o comandante do grupo, colocando Moscou e Washington em lados opostos em um conflito no Oriente Médio pela primeira vez desde a Guerra Fria.
Em conversas via teleconferência por uma hora, militares russos e norte-americanos discutiram modos de garantir que seus aviões de guerra não entrem em confronto enquanto conduzem diferentes ataques aéreos sobre a Síria, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, a jornalistas. Ele afirmou ter sido a primeira em uma série de conversações.
Duas fontes libanesas disseram à Reuters que centenas de soldados iranianos alcançaram a Síria nos últimos 10 dias com armamentos para organizar uma grande ofensiva terrestre. Eles também receberiam apoio do libanês Hezbollah, também aliado de Assad, e de milicianos xiitas vindos do Iraque, enquanto a Rússia ficaria a cargo da cobertura aérea.
"A vanguarda das forças terrestres iranianas começaram a chegar à Síria: soldados e oficiais especificamente para participar da batalha. Eles não são conselheiros... nós falamos de centenas, com equipamentos e armas. Eles serão seguidos por mais", disse uma das fontes.
Até agora, o apoio militar direto dos iranianos a Assad havia sido enviado sobretudo na forma de conselheiros militares. O Irã também já havia mobilizado milicianos xiitas, incluindo iraquianos e alguns afegãos, para lutar ao lado das forças do governo sírio.
Moscou disse ter atingido posições do Estado Islâmico, mas as áreas que atacou próximas às cidades de Hama e Homs são em grande parte controladas por uma aliança de insurgentes, que diferentemente do EI recebem apoio de aliados dos EUA, incluindo Estados árabes e a Turquia.
Hassan Haj Ali, líder do grupo rebelde Suqour al-Jabal que integra o Exército Sírio Livre, disse à Reuters que seu grupo foi um dos alvos na província de Idlib, sendo atingido por cerca de 20 mísseis em duas incursões diferentes. Seus militantes foram treinados pela CIA no Catar e na Arábia Saudita, como parte de um programa que Washington disse ter objetivo de apoiar grupos que se opõem tanto ao Estado Islâmico como a Assad.
Na Organização das Nações Unidas, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse em uma coletiva de imprensa que Moscou tinha o Estado Islâmico como alvo. Ele não negou especificamente que aviões russos tenham atacado instalações do Exército Sírio Livre, mas afirmou que a Rússia não vê o grupo como terrorista e sim como parte da solução política na Síria.
O objetivo é ajudar as Forças Armadas sírias "em seus pontos fracos", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O porta-voz do Pentágono, Peter Cook, descreveu as conversas militares desta quinta-feira como "cordiais e profissionais" e disse que um representante dos EUA levantou preocupações de que áreas alvejadas por aeronaves russas na Síria não fossem redutos do Estado Islâmico.
O chanceler alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse nesta quinta na ONU: "Em vez de decisões solitárias pela Rússia de realizar ações militares diretas na Síria, precisamos que a Rússia haja politicamente para advogar pela transição na Síria."