Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Apesar do adiamento da votação da reforma da Previdência na Câmara para fevereiro de 2018, o Palácio do Planalto vai adotar um discurso otimista e manter a pressão sobre a base aliada a fim de garantir os votos necessários para aprovar a proposta, afirmou uma fonte palaciana à Reuters.
A avaliação do governo, segundo a fonte, é que o presidente Michel Temer terá mais dois meses para trabalhar a conquista de novos apoios entre deputados para ter os 308 votos para passar o texto na Câmara.
Até lá, os governistas no Planalto e no Congresso devem reforçar a campanha em favor da reforma nos meios de comunicação, intensificar o contato com os parlamentares para conquistar apoios e até mesmo propor novas modificações ao texto apresentado pelo deputado Arthur Maia (PPS-BA) há três semanas, com aval do governo, ponto esse que já gerou atrito entre envolvidos diretamente na discussão da matéria.
No governo, o discurso é que a pauta da reforma não sairá da agenda dos parlamentares, somente porque 2018 é um ano de eleições gerais. E que todos os candidatos a cargos eletivos, caso a proposta não passe, terão de se posicionar sobre o tema na campanha.
Por ora, segundo a fonte palaciana, o texto apoiado pelo governo é o apresentado pelo relator. Mas nesta quinta-feira, dia em que foi oficializado o adiamento da votação da próxima semana para o dia 19 de fevereiro, tanto Arthur Maia quanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), admitiram a possibilidade de novas concessões à matéria.
O principal ponto suscetível a mudanças, conforme o relator, é o que diz respeito à regra de transição para servidores públicos que ingressaram nas carreiras antes de 2003, reivindicação feita pela bancada do PSDB e discutida pessoalmente pelo presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) em reunião com Rodrigo Maia na manhã desta quinta-feira pela manhã.
Eventuais novas mudanças, entretanto, já contaram com a oposição pública do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Segundo ele, o governo não está aberto a novas alterações ao texto.
O governo vai buscar novamente aumentar os apoios das bancadas. Segundo a fonte palaciana, uma das principais queixas é que, apesar do discurso, os tucanos indicaram um apoio aquém do desejado em favor da proposta, mesmo com o fechamento de questão: cerca de 30 votos dos 46 para a bancada. Isso, numa avaliação, inibiu o "efeito manada" que poderia ocorrer na reta final da votação da matéria -a contabilidade de apoios, no momento, gira em torno de 275 a 285 votos.
Um dos vice-líderes do governo na Câmara, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse à Reuters que discorda da avaliação de responsabilizar o PSDB pela não votação da matéria. Ele disse que o calendário de apreciação da matéria ficou apertado em razão da paralisia da Câmara para discutir as duas denúncias contra Temer feitas pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.
Perondi acredita que, com mais tempo, o apoio dos parlamentares à proposta vai aumentar e será possível aprovar a matéria em fevereiro. Citou ainda como argumento de que o jogo está virando a favor do governo o fato de pesquisas de opinião pública estarem registrando uma menor rejeição à reforma por parte da população.
O presidente do PTB, Roberto Jefferson, também disse que o recém-eleito novo presidente do PSDB, o governador paulista, Geraldo Alckmin, vai ter tempo para conquistar apoios em favor da reforma no partido. Também preferiu dividir a responsabilidade para aprovação da reforma com toda a base e avaliou ainda que seria difícil articular a votação da proposta na próxima semana com o presidente está hospitalizado -ele está internado desde a véspera e foi submetido a um procedimento médico.
Temer deverá retornar à atividade nesta sexta-feira e dar posse ao deputado Carlos Marun (PMDB-MS) no cargo de ministro da Secretaria de Governo.
"O nosso Tite estava na enfermaria no momento decisivo", disse Jefferson, numa comparação do presidente com o técnico da seleção brasileira. Segundo ele, com Marun no cargo e Temer de volta à articulação, será possível cabalar novos apoios em prol do texto.
(Com reportagem adicional de Maria Carolina Marcello e Marcela Ayres)