Por Andrew Osborn
MOSCOU (Reuters) - No mês passado a polícia deteve David Kankiya, um observador da iminente eleição presidencial da Rússia, a alguns metros de sua casa no sul do país, dizendo que seu carro podia ter sido usado em um crime, de acordo com ele.
Horas mais tarde Kankiya foi acusado de desobedecer a polícia, algo que ele nega, e preso por um tribunal durante cinco dias. Semanas depois, os pneus de seu carro foram furados com uma faca, diz ele, e na terça-feira jornalistas pró-Kremlin o emboscaram.
"Tenho informações de que você insultou o povo russo", disse um deles, como mostrou um vídeo do incidente.
Dias antes da eleição deste domingo, que segundo pesquisas o presidente Vladimir Putin vencerá com facilidade, a Golos, organização não-governamental que monitora as eleições russas, disse estar sendo submetida a uma pressão nunca vista.
Seus problemas são parte do que críticos do Kremlin afirmam ser uma campanha mais ampla para conter ou silenciar vozes dissonantes.
O político de oposição Boris Nemtsov foi morto a tiros em 2015, e o atual líder opositor Alexei Navalny foi impedido de concorrer ao pleito deste ano devido ao que classificou como uma condenação fabricada de fraude.
O Kremlin, que nega envolvimento no assassinato de Nemtsov, quer que a reeleição de Putin seja vista como legítima e essencialmente justa no Ocidente para não danificar ainda mais as relações já deterioradas. Em casa, temeroso de protestos de rua, o Kremlin anseia que os eleitores pensem da mesma forma.
O Kremlin diz que as queixas sobre a repressão à divergência são vazias. Casos individuais são uma questão para as autoridades relevantes, que o governo diz só estarem tentando aplicar a lei.
Na mesma linha, a Comissão Eleitoral Central diz que fará tudo que puder para que a eleição de domingo seja livre de fraudes, e pediu conselhos à Golos sobre como fazê-lo.
Mas Navalny, acusado por Putin de ser a escolha de Washington para presidente, previu que as autoridades recorrerão à fraude generalizada para dar uma vitória arrasadora a Putin e cogitou organizar manifestações pós-eleição do tipo das que abalaram a Rússia após o último êxito eleitoral de Putin, em 2012.
A Golos diz que as autoridades a culparam injustamente por aqueles protestos --alguns dos maiores desde o colapso soviético-- pelo fato de a ONG ter divulgado o que viu como violações eleitorais graves, algo que planeja fazer de novo neste final de semana.