Por Tatiana Ramil
SÃO BERNARDO DO CAMPO (Reuters) - A manifestação de apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo nesta sexta-feira teve gritos contra o juiz federal Sérgio Moro, euforia com discursos inflamados e choro de alguns simpatizantes.
Milhares de pessoas se espremeram em uma rua estreita diante do sindicato dos metalúrgicos do ABC e permaneciam por horas acompanhando discursos de deputados, líderes de partidos de esquerda e representantes de sindicatos e movimentos sociais.
A professora Maria do Céu Carvalho veio de carro do Rio de Janeiro para apoiar Lula, que teve a prisão decretada por Moro na véspera e tinha até as 17h desta sexta para se apresentar à Polícia Federal em Curitiba e não o fez.
“Acho todo o processo um absurdo. Não tem provas... me parece que a prisão é necessária para eles para fazer um jogo político. Não é contra a corrupção, é para ver o Lula humilhado”, disse ela, que voltaria ao Rio durante a noite.
“Mas o Lula não é alguém que se humilha, ele se supera com as dificuldades", acrescentou a professora, com os olhos marejados.
Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão por receber um tríplex de Guarujá como propina paga pela empreiteira OAS em troca de contratos na Petrobras (SA:PETR4). Lula nega ser dono do imóvel, assim como quaisquer irregularidades.
A multidão esperava por um discurso do petista, mas até as 19h30 ele não tinha aparecido no carro de som.
“A gente entende perfeitamente, é um momento de muita pressão. A gente teve uma posição dele, ele apareceu na janela”, afirmou a enfermeira Edna Severo, de 39 anos, chorando.
Ela disse que foi morar em São Bernardo do Campo por causa de Lula e gosta do petista desde pequena, por causa do pai.
No meio da multidão havia camelôs vendendo bebidas e churrasquinho. Era difícil circular entre as pessoas e, quando um dos organizadores perguntou se tinha como um caminhão de água chegar perto do sindicato, que teve água cortada, a multidão respondeu que não.
Durante a manifestação teve um ato interreligioso, com a presença de padres, pastores, judeus, muçulmanos e representantes do candomblé.
“A nossa guerra é contra a injustiça“, disse um dos padres.
Havia pessoas de todas as idades no ato.
Aos 70 anos, o aposentado Luiz Silveira conheceu Lula quando trabalhava na Volkswagen e o petista era líder sindical.
Ele disse que sempre votou no PT e considera “injusto” o pedido de prisão, pois, segundo ele, não há provas.
Entre os gritos de guerra preferidos da multidão estavam coros contra Moro e bordões a favor do petista.
"Eu não tenho medo. Avisa lá pro Moro que aqui não tem arrego", gritava a multidão.
“Lula guerreiro, do povo brasileiro“, entoavam os simpatizantes, com bandeiras de PT, PSOL e PCdoB.