BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse esperar que um "bom acordo" seja selado entre Mercosul e União Europeia (UE) após a realização de alguns ajustes que permitirão aos blocos chegarem a "um meio termo nessas discussões".
"O que tem ali são algumas coisas que ainda não conseguimos ajustar, como volume de carne que pode entrar na comunidade europeia sem pagamento de impostos, quer seja suína, de aves ou de bovinos. Do outro lado também há um pedido de entrada de produtos lácteos, queijos e vinhos (no Brasil)", afirmou Maggi nesta terça-feira.
"Os negociadores terão de encontrar um meio termo nessas discussões", acrescentou o ministro a jornalistas depois de participar de uma audiência na Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados, em Brasília. Ele não deu prazo para a conclusão acordo.
A possibilidade desse acordo de livre comércio entre Mercosul e UE ser fechado até dezembro, como queriam os europeus, tornou-se mais remota, depois da rodada de negociações no início de outubro ter terminado com mais frustrações que avanços.
FRIGORÍFICOS
Maggi comentou ainda que a medida de verticalização na fiscalização de frigoríficos "já saiu do Ministério da Agricultura, deve estar saindo do (Ministério do) Planejamento nesta semana e vai para a Casa Civil fazer um decreto para regulamentar tudo isso".
Segundo ele, essa verticalização nas indústrias de proteínas prevê a retirada de qualquer ingerência política que possa interferir na questão de sanidade e de fiscalização.
Trata-se de uma medida que vem na esteira da operação Carne Fraca, deflagrada em março pela Polícia Federal e que jogou o setor brasileiro de proteínas em uma grave crise de credibilidade.
Conforme o ministro, porém, os efeitos da operação já ficaram para trás.
"Desde o evento Carne Fraca... Fizemos uma checagem em todos os nossos processos, nos frigoríficos, e podemos garantir que tudo vai indo muito bem... A exportação foi normalizada... A Carne Fraca deu uma parada... Mas depois retomamos, e estamos de pleno acordo, com o mercado funcionando sem reclamações."
Por fim, Maggi afirmou que a portaria do Ministério do Trabalho referente a trabalho escravo pode dar mais "tranquilidade" ao setor e aos trabalhadores.
"Entendo que a portaria, da forma como está ou modificada, deverá trazer mais tranquilidade àqueles que trabalham no campo. O grande problema é que pequenas irregularidades acabam sendo computadas como grandes irregularidades", disse.
"Não defendo de forma alguma maus tratos. O que defendemos é a transparência nesse processo. Não podemos concordar que o setor agrícola, que é o carro-chefe da economia (do país), seja tratado de forma diferente dos demais", concluiu.
Contestada, a portaria do Ministério do Trabalho sobre o trabalho escravo foi suspensa, via liminar, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 24 de outubro.
(Por José Roberto Gomes, em São Paulo; com reportagem adicional de Jake Spring)