Por Eduardo Simões e Mateus Maia
SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, conquistou votação expressiva no primeiro turno da eleição presidencial deste domingo, mas não o suficiente para evitar um segundo turno contra o petista Fernando Haddad, salvo pela Região Nordeste, que garantiu uma nova rodada de votação daqui a três semanas, na qual o ex-capitão do Exército larga na frente.
Com 99,95 por cento das seções eleitorais apuradas, Bolsonaro tem 46,04 por cento dos votos válidos, ou 49,2 milhões de votos, enquanto Haddad ficou com 29,26 por cento, o equivalente a 31,3 milhões de votos.
O candidato do PSL venceu em todos os Estados, exceto nos nove do Nordeste e no Pará. Haddad foi o mais votado em oito Estados nordestinos --Ciro Gomes (PDT) ganhou no Ceará-- e no Pará.
A votação expressiva em solo nordestino, tradicional reduto do PT e especialmente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, garantiu a Haddad, de perfil mais acadêmico e bem menos popular que Lula, a vaga no segundo turno.
Assim, Bolsonaro, que tem encarnado o antipetismo nos últimos anos e, nesta eleição, consolidou-se como principal nome do antagonismo ao PT, enfrentará Haddad, ungido à cabeça de chapa do PT por Lula, depois de o ex-presidente ter a candidatura barrada pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa.
Os dois candidatos registraram índice elevado de rejeição entre o eleitorado, segundo pesquisas de opinião, o que deverá implicar em uma escolha pelo menos pior por parte do eleitorado.
Em discurso após a definição do segundo turno com Bolsonaro, Haddad disse que quer unir o país em defesa da democracia, já dando o tom de conciliação que pretende usar para tentar recuperar, na segunda rodada, o espaço ganho pelo discurso antipetista de Bolsonaro.
"Queremos unir os democratas do Brasil, as pessoas que têm atenção aos mais pobres do Brasil, sempre tão desigual", disse Haddad.
Bolsonaro, por sua vez, voltou a questionar as urnas eletrônicas e afirmou que registraram "problemas" ao longo do domingo que, na avaliação dele, impediram que o novo presidente fosse definido já no primeiro turno. O ex-capitão também manteve discurso antipetista e pregou contra a esquerda, o comunismo e o socialismo.
"Não queremos a volta desse tipo de gente que trouxe o pior da política ao Palácio do Planalto. O Brasil teve uma experiência de 13 anos com o que é o pior que tem na política", disse. "Não podemos continuar flertando com o socialismo e o comunismo", completou.
A polarização entre o petismo e Bolsonaro também se refletirá no Congresso Nacional. De acordo com estimativa da XP Investimentos, o PT terá a maior bancada da Câmara dos Deputados, com 57 deputados, seguido pelo PSL, que terá 51.
Ainda na seara das eleições parlamentares, a eleição deste domingo representou a queda de nomes tradicionais da política. O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), por exemplo, não conseguiu se reeleger, assim como senadores que não conseguiram renovar seus mandatos a partir de fevereiro como Roberto Requião (MDB-PR), Edison Lobão (MDB-MA), Garibaldi Alves (MDB-RN), Romero Jucá (MDB-RR) e Lindbergh Farias (PT-RJ).
Outros nomes conhecidos que tentavam ingressar no Senado também fracassaram neste domingo, casos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que buscava uma vaga por Minas Gerais; de Eduardo Suplicy (PT), que pretendia voltar a representar São Paulo na Casa, e do ex-governador do Paraná, Beto Richa, que deixou o comando do governo do Estado neste ano para tentar entrar no Parlamento.
ELEIÇÃO PLEBISCITÁRIA
Com o elevado nível de polarização, a expectativa é de uma campanha de segundo turno calcada nos esforços de desconstrução do adversário de ambos os lados e de uma espécie de plebiscito entre petistas e antipetistas.
"Muito provavelmente nós vamos ter uma eleição de segundo turno que vai estar muito mais marcada por elementos negativos --quer dizer, Haddad tentando desconstruir Bolsonaro e Bolsonaro tentando desconstruir Haddad-- do que de fato por uma lógica de valores positivos", disse o cientista político Creomar de Souza, da Universidade Católica de Brasília.
Entre os derrotados neste domingo, Ciro, que ficou com 12,47 por cento dos votos válidos, disse que ainda fará reuniões para definir seu posicionamento no segundo turno, mas descartou apoio a Bolsonaro, lembrando que tem histórico de defesa da democracia e contra o fascismo.
"Uma coisa eu posso adiantar logo: como vocês já viram, minha história de vida é de defesa da democracia e contra o fascismo", disse ele a jornalistas em Fortaleza. "Ele não, sem dúvida", completou, referindo-se ao presidenciável do PSL.
Em seu discurso, Haddad disse ter conversado por telefone com Ciro, com a candidata da Rede, Marina Silva, e Guilherme Boulos, do PSOL, que já anunciou apoio ao petista no Twitter (NYSE:TWTR).
O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que registrou 4,76 por cento dos votos válidos, manifestou respeito pelo resultado das urnas.
"Quero transmitir em primeiro nosso absoluto respeito ao resultado das urnas, a manifestação dos eleitores", disse ele em São Paulo, acompanhado de sua esposa, Lu Alckmin, e de sua vice na chapa, a senadora Ana Amélia, do PP. "De outro lado também destacar aqui a nossa serenidade como democratas que somos."
Presidente do PSL, Gustavo Bebiano, e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), um dos aliados de primeira hora de Bolsonaro, disseram que o ex-capitão buscará os votos do PSDB e tentará apoios de todos os partidos, menos o da esquerda. Não querem, no entanto, o apoio de Alckmin por causa da agressividade da campanha do tucano contra Bolsonaro.
Marina Silva, candidata da Rede, que viu seu apoio junto ao eleitorado derreter ao longo da campanha chegando a este domingo com 1 por cento e apenas a oitava posição, disse que seu partido ainda discutirá sobre apoios no segundo turno, mas que fará oposição a partir de 2019.
(Reportagem adicional de Ricardo Brito e Maria Carolina Marcello, em Brasília; Lisandra Paraguassu, Tatiana Ramil, Laís Martins, Pedro Belo e Taís Haupt, em São Paulo, e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)