BRASÍLIA (Reuters) - O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato, defendeu nesta quarta-feira, em comunicado interno dirigido à tropa, que militares sigam "fielmente" a Constituição e que não se empolguem diante do contexto atual do país.
O comunicado foi divulgado após o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, ter feito declarações na véspera em que afirmou que o Exército compartilha "com os cidadãos de bem" o "repúdio à impunidade" e no dia do julgamento de habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
"O Brasil amanhece hoje prestes a viver um dos momentos mais importantes da sua história. Hoje serão testados valores que nos são muito caros, como a democracia e a integridade de nossas instituições. Instituições essas que têm seus papéis muito bem definidos no arcabouço legal da Nação", diz o comandante da Aeronáutica no comunicado.
"Nestes dias críticos para o país, nosso povo está polarizado, influenciado por diversos fatores. Por isso é muito importante que todos nós, militares da ativa ou da reserva, integrantes das Forças Armadas, sigamos fielmente à Constituição, sem nos empolgarmos a ponto de colocar nossas convicções pessoais acima daquelas das instituições", defendeu.
Rossato afirmou ainda que o momento exige união e foco na missão da instituição e argumentou que "tentar impor nossa vontade ou de outrem é o que menos precisamos".
Na noite de terça-feira, por meio de sua conta no Twitter, o general Villas Bôas questionou quem realmente está pensando no país. "Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?", indagou. [nL2N1RH01C]
"Asseguro à nação que o Exército brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais", acrescentou o general.
O Ministério da Defesa afirmou em nota que o comandante do Exército mantém a "coerência" e o "equilíbrio" e que reafirma o compromisso da "Força Terrestre com os preceitos constitucionais".
A nota diz também que o comandante manifesta "preocupação com os valores e com o legado que queremos deixar para as futuras gerações". "É uma mensagem de confiança e estímulo à concórdia", afirma a nota.
Na terça-feira, o general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa disse, que se o STF permitir que Lula se candidate e se eleja presidente, não restará alternativa a não ser uma intervenção militar.
"Se acontecer tanta rasteira e mudança da lei, aí eu não tenho dúvida de que só resta o recurso à reação armada. Aí é dever da Força Armada restaurar a ordem. Mas não creio que chegaremos lá", disse Lessa, segundo reportagem publicada no site da revista Exame.
Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, e poderá ser preso se o STF negar o habeas corpus.
O petista lidera as pesquisas de intenção de voto para a corrida presidencial de outubro, mas devido à condenação por um órgão colegiado da Justiça, deve ser impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa.
O habeas corpus impetrado pela defesa de Lula, que será analisado pelo STF nesta quarta-feira, busca que a pena imposta ao ex-presidente comece a ser cumprida somente em caso de rejeição de todos os recursos possíveis em todas as instâncias do Judiciário.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)