Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A convenção do PMDB, neste sábado, em Brasília, tem o tom de um partido de oposição, com gritos de “Fora PT”, “Fora Dilma” e defesa aberta de um processo de impeachment que conduziria o vice-presidente Michel Temer à Presidência da República, apesar da decisão da cúpula do partido de adiar a votação de um provável desembarque do governo de Dilma Rousseff para uma reunião do diretório nacional em até 30 dias.
“Não há desembarque hoje. Há a construção de uma unidade que até hoje o partido não teve”, explicou o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
“Em até trinta dias todas as moções serão apreciadas pelo diretório nacional. É importante esse tempo para que se possa ouvir a fazer um convencimento para ser uma posição de todos”.
A decisão de adiar, diz o senador, é para que o partido se una em torno de Temer. “Se rompermos hoje, amanhã os ministros não entregam o cargo e vai cada um para um lado”, afirmou, ressaltando que hoje a maioria do partido quer a saída do governo.
Há, no entanto, grupos que resistem à saída neste momento. Entre eles, o PMDB do Rio de Janeiro, liderado pelo líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani, que tem ainda na mão dois ministérios: o da Saúde, com Marcelo Castro, e da Ciência e Tecnologia, com Celso Pansera.
“A questão não é se vai sair, mas quando. Cada um tem seu cronograma. Para o PMDB do Rio não interessa sair agora”, afirma uma fonte próxima ao PMDB fluminense.
Hoje minoritário nessa posição, Picciani desconversa ao tratar do desembarque. “Já era esperado, tem essas divisões. O importante agora é assinalar uma unidade na chapa única, propondo soluções que não necessariamente sejam impeachment”, disse o deputado. “Vamos deixar falar”.
Picciani tem ainda o apoio de alguns ministros, como Henrique Eduardo Alves, do Turismo. Alves foi um dos que mais batalhou para se manter no cargo em outubro de 2015, quando a presidente fez uma reforma ministerial, e não tem nenhum outro cargo.
O ministro propôs ampliar para até 60 dias a decisão sobre as moções sobre independência do partido, mas a tese não deve ganhar muito espaço.
O PMDB observa a temperatura dos acontecimentos dos próximos dias, das manifestações marcadas para este domingo à abertura do processo de impeachment, que pode ser votada na Câmara nas próximas duas semanas, mas peemedebistas confirmam que dificilmente não haverá desembarque.
Nesta manhã, por acordo da cúpula, não falarão defensores do governo. Entre os que discursaram, a senadora Marta Suplicy (SP), ex-petista, foi uma das mais exaltadas. “O PT precisa sair do governo o mais rapidamente possível”, disse, classificando o mandato de Dilma Rousseff como o “mais corrupto e incompetente”.
Depois de dizer que Michel Temer “irá assumir o poder”, Marta garante que o PMDB tem “o DNA da democracia”.
O Palácio do Planalto observa com apreensão o resultado da convenção, apesar de ter sido avisado que o desembarque não será feito neste sábado, disse à Reuters uma fonte palaciana, sabe que o futuro do partido no governo é curto e segurou a nomeação do deputado Mauro Lopes (MG) para a Secretaria de Aviação Civil, acertada com Picciani, para depois do encontro.