SÃO PAULO (Reuters) - Crimes de corrupção estão ligados a um terço dos casos de lavagem de dinheiro no Brasil, mostrou um levantamento feito pela Thomson Reuters com base em dados colhidos até o início deste mês e, com o avanço das investigações da Lava Jato, a participação da corrupção deve subir neste ranking nos próximos meses.
Segundo dados da ferramenta de gerenciamento de risco Thomson Reuters World-Check, que mostra em tempo real informações coletadas junto a veículos globais de mídia sobre crimes envolvendo pessoas e empresas, 32 por cento dos casos de lavagem de dinheiro no Brasil até o início deste mês tinham a corrupção como um dos crimes relacionados.
"Sempre há um crime conectado à lavagem de dinheiro", disse à Reuters o chefe do departamento da Thomson Reuters que analisa crimes financeiros, Martin Woods.
Segundo o levantamento, a corrupção ocupa a quarta posição entre os crimes relacionados à lavagem de dinheiro no Brasil, atrás do crime organizado, com 62 por cento dos casos; fraude, com 45 por cento, e roubo e desfalque, com 40 por cento.
Diante do atual cenário vivido pelo Brasil, no entanto, Woods avalia que a corrupção deve em breve ocupar um percentual maior dos crimes relacionados à lavagem de dinheiro no país.
"Em conexão com as investigações em andamento e com a turbulência política no Brasil, haverá uma mudança. A corrupção subirá (no ranking), e dependendo de como isso for reportado, crimes contra o Estado também", disse Woods
O executivo participa nesta quinta-feira do Brazil Risk Summit, promovido pela Thomson Reuters, que vai reunir profissionais e reguladores de governança corporativa do país.
Woods tem acompanhado os desdobramentos da operação Lava Jato e das delações premiadas de empresas e pessoas ligadas a essas companhias no Brasil. Diante de um cenário de corrupção generalizada entre empresas e poder público, apontou algumas mudanças que ajudariam a corrigir o problema.
"Eu acredito que o Brasil se beneficiaria de uma melhor proteção para delatores nas leis. Todas as nações se beneficiariam, mas o Brasil particularmente, se beneficiaria de financiamento público para os partidos, não financiamento privado", disse.
Woods apontou a importância dos delatores na investigação de crimes de corrupção crime no qual, de acordo com o especialista, "os dois lados da transação são culpados de cometerem crimes".
"Então qual das partes estaria disposta a dizer 'eu cometi um crime'? Não é isso geralmente o que acontece, então você precisa da evidência de um delator", afirmou.
"Eu prefiro chamá-los de testemunhas colaboradoras ou infratores colaboradores. Eles não admitem que cometeram um crime, eles são pegos, ou identificados, então oferecem um acordo."
Para Woods, ao negociar um acordo de colaboração com a Justiça, muitas vezes investigadores precisam "sacrificar muito para conseguir muito".
Quando indagado sobre o acordo de delação premiada firmado por executivos da holding J&F, controladora da JBS (SA:JBSS3), apontado por críticos como excessivamente benéfico para os delatores, Woods disse que ainda é cedo para dizer se ele também foi bom para o país, já que as evidências dadas pelos colaboradores ainda precisam ser corroboradas.
A delação da J&F levou à abertura de um inquérito contra o presidente Michel Temer no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de corrupção passiva, participação em organização criminosa e obstrução da Justiça.
"Eles conseguiram um acordo que foi percebido como bom para eles e para sua família. Mas as pessoas que negociaram o acordo, conseguiram um bom acordo para o Brasil?", questionou.
"Se a informação de fato é: 'o líder do Brasil é corrupto e eu vou dar as evidências que mostram isso', você pode imaginar se o acordo não é feito e não se tem a evidência que mostraria que o líder do país é corrupto? Isso é um bom acordo?", indagou.
(Reportagem de Eduardo Simões)