Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Eram pouco antes das 20h, a oposição já havia passado de 200 votos e a cúpula do governo já dava como perdida a batalha pelo mandato da presidente Dilma Rousseff no plenário da Câmara dos Deputados, mesmo que seus líderes parlamentares ainda tentassem passar uma imagem de otimismo.
No Palácio da Alvorada, a presidente assistiu a votação acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seus ministros mais próximos –-Jaques Wagner (chefe de gabinete da Presidência) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), além do assessor especial Giles Azevedo e do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo.
Antes mesmo de a votação na Câmara começar, o clima não era bom.
Lula chegou ao Planalto pouco depois das 13h. Deu um forte abraço na presidente e, de acordo com uma fonte próxima ao ex-presidente, já não parecia confiante.
Tendo passado a manhã em telefonemas com parlamentares --e não sendo nem mesmo atendidos por alguns--, Lula sabia que a batalha seria muito dura, disse a fonte, que falou sob condição de anonimato.
Também antes do início da votação, um parlamentar petista disse à Reuters que a situação estava “muito feia” e já falava em se preparar para o Senado.
Os líderes do governo na Câmara, no entanto, ainda falavam em conseguir de 182 a 185 votos --um placar apertado, mas positivo para Dilma.
Ao longo da votação, o governo foi registrando traições. Votaram contra o governo deputados que haviam negociado --e recebido-- cargos três dias antes. Outros, colocados ainda na coluna de indecisos, optaram pelo sim ao impeachment.
O semblante preocupado de alguns petistas no início da votação já mostrava nesse momento total desânimo. Se antes aplaudiam cada voto não ao impedimento, passaram a acompanhar quietos o desenvolvimento da votação.
De acordo com uma outra fonte, mesmo estando abaixo do que havia previsto, antes da votação chegar nos Estados da região Nordeste o governo ainda alimentava a esperança de ver os resultados no Ceará, Maranhão, Bahia e Pernambuco.
Os dois primeiros Estados, no entanto, não entregaram todos os votos que o governo esperava.
No Maranhão, a despeito do trabalho incansável do governador, Flávio Dino (PcdoB), apenas oito deputados votaram com o governo.
O Ceará deu mais votos contra o impeachment que a favor, totalizando 11, uma ausência e uma abstenção --ainda assim, menos do que o esperado e o necessário.
Eram quase 22h quando até mesmo os líderes do governo em plenário deram a batalha como perdida.
Do lado de fora do plenário, um dos mais aguerridos defensores do governo, que andava com uma planilha em uma mão e uma calculadora na outra, era o retrato do desânimo.
“Alguém errou muito feio nessas contas”, reclamava. “Ou fomos muito enganados.”
Terminada a votação na Câmara, pouco antes da meia-noite, o placar mostrava 367 votos a favor do impeachment, 137 votos contrários, sete abstenções e duas ausências.
Eram necessários ao menos 342 votos pelo impedimento na Casa para que o caso seguisse para o Senado e mesmo as planilhas mais otimistas da oposição não apontavam para perto de 370 votos desse lado.