Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - Nome do Palácio do Planalto para comandar novamente a bancada do PMDB na Câmara, o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que disputa a liderança nesta quarta-feira, não foi sempre um apoiador do Executivo.
Inicialmente aliado do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cujo suporte foi um dos fatores que o levaram à liderança do PMDB no ano passado, Picciani chegou a apoiar, assim como seu pai, o presidente do partido no RJ, Jorge Picciani, a candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República nas eleições de 2014.
A conjuntura política mudou, Cunha rompeu definitivamente com o governo e Leonardo Picciani, em seu terceiro mandato de deputado federal aos 36 anos, ganhou a relatoria de proposta prioritária para o Executivo, que revertia parcialmente a desoneração da folha de pagamento concedida a empresas, parte do ajuste fiscal promovido pelo governo no ano passado.
Ainda nessa época, não era tido como governista. Negociava termos da proposta com o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas tinha posições divergentes das defendidas pelo Executivo.
Passou a conversar mais com o governo quando o Planalto identificou que já era crítica a insatisfação do PMDB e chamou o líder para negociar um aumento da cota dos deputados do partido em ministérios, como parte da reforma administrativa para adequar a distribuição ministerial à correlação de forças da sua base.
Como resultado da reforma, dois deputados peemedebistas foram alçados a ministros --Celso Pansera, na Ciência e Tecnologia, e Marcelo Castro, na Saúde, uma das pastas mais relevantes da Esplanada, com um vultuoso orçamento e capilaridade.
Mas foi durante a escolha de nomes da bancada para compor uma comissão especial da Câmara que analisará o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff que a aproximação do líder com o governo ficou mais evidente.
Ao identificarem na lista oferecida por Picciani para compor a comissão do impeachment deputados favoráveis ao governo, dissidentes da bancada aliaram-se à oposição e elaboraram uma lista paralela que acabou sendo eleita, mas posteriormente anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A partir daí ficou consolidada uma divisão entre os representantes do partido na Câmara, culminando com a destituição de Picciani do posto de líder. A ala insatisfeita na bancada do PMDB conseguiu apoio suficiente colocar Leonardo Quintão (PMDB-MG) em seu lugar.
Picciani retomou o posto oito dias depois, com nova lista de apoio. Tenta agora a reeleição à liderança contra o deputado Hugo Motta (PMDB-PB), aliado de Cunha, com uma bancada dividida num cenário em que terá de mostrar lealdade ao Planalto no processo de impeachment contra Dilma.