Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A decisão do presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), de anular a sessão que aprovou a admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff, surpreendeu o grupo de auxiliares do vice-presidente Michel Temer, mas a avaliação feita por ele, logo pela manhã, era de que não teria condições jurídicas de prosperar, segundo uma fonte próxima a Temer.
“Não imaginávamos que o Senado iria dar credibilidade àquilo. A surpresa foi o atual presidente da Casa apresentar essa decisão”, disse a fonte, que pediu anonimato.
Durante o dia, a romaria de parlamentares no Jaburu se manteve intensa. Além da equipe mais próxima de Temer, os senadores Vicentinho Alves (PR-TO), José Maranhão (PMDB-PB) e Roberto Rocha (PSB-MA) entraram pra almoçar com o vice-presidente.
Temer não falou diretamente com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que reuniu líderes partidários em sua casa logo depois da decisão de Maranhão. Coube ao senador Romero Jucá (PMDB-TO) levar a Renan a posição de Temer.
De acordo com uma fonte peemedebista, a decisão de Maranhão deixou Renan “profundamente irritado”. “Foi uma coisa totalmente desnecessária que o empurrou a ter de tomar uma decisão que só traria desgaste, de um lado e de outro”, disse.
Ainda segundo essa fonte, o presidente do Senado, que ainda se mostrava aberto ao diálogo com o Planalto, irritou-se ainda mais por não ter sido informado das negociações entre o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, o governador do Maranhão, Flávio Dino, e o presidente em exercício da Casa.
Na equipe de Temer, o ato foi tratado como uma “última tentativa desastrada daqueles que não reconhecem a legitimidade do processo”.
“Foi uma coisa muito desarrumada, que só trouxe perturbação e estresse para o mercado”, disse a fonte próxima ao presidente.
Nos mercados financeiros, a decisão de Maranhão levou a Bovespa a aprofundar a queda e o dólar a subir quase 5 por cento ante o real. A reação negativa, contudo, perdeu força ao longo da tarde, à medida que o mercado passou a duvidar que a decisão seria aceita pelo Senado.