BRASÍLIA (Reuters) - A Câmara dos Deputados deverá rejeitar por "mais de 300 votos" a autorização para que o Supremo Tribunal Federal julgue uma esperada denúncia a ser oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer, disse nesta quarta-feira o deputado Carlos Marun (MS), um dos vice-líderes do PMDB na Casa.
"Eu tenho a mais absoluta convicção de que hoje ela seria recusada por mais de 300 votos, mais absoluta convicção", disse Marun a jornalistas, pouco antes de se reunir com Temer no Palácio do Planalto. Para ser aceita, a denúncia precisaria ter a aprovação de 342 dos 513 deputados.
Para o deputado, uma denúncia não pode ser baseada em provas "inexistentes", "frágeis" ou até em "circunstâncias controversas", numa referência à gravação da conversa entre um dos sócios da JBS (SA:JBSS3), o delator Joesley Batista, e Temer na qual, para a PGR, o presidente teria confessado o cometimento de crimes.
Marun e um grupo de deputados iriam se reunir com o presidente para defender que o governo retome a agenda de votações da reforma da Previdência na Câmara e não fique a reboque da espera da denúncia de Janot.
Para Marun, que foi presidente da comissão especial da reforma da Previdência na Câmara, não se pode ficar refém de uma "pseudocrise" e o governo precisa retomar o esforço de convencimento dos deputados para aprovar a reforma.
Nas contas do deputado peemedebista, o governo tem praticamente o mesmo número de votos a favor da reforma de antes da crise, cerca de 270. São necessários ao menos 308 votos em dois turnos para a matéria ser aprovada, já que se trata de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
Marun avalia que a base governista perdeu "tempo" com essa crise, mas que agora o ambiente seria favorável para recomeçar a caça por apoios. Ele disse acreditar ser possível votar a reforma no plenário da Câmara ainda antes do recesso parlamentar.
CUNHA
Antigo aliado do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Marun disse não crer que ele possa relatar, no depoimento que presta nesta quarta-feira no inquérito de Temer, algo que "agrave" a situação do presidente. O vice-líder destacou a inocência do presidente e fez questão de ressalvar que "há muito tempo" não tem nenhum contato com Cunha.
Em tom de ironia, Marun afirmou que a palavra de Joesley Batista vale "tanto quanto uma nota de 2,37 reais", ao ser perguntado sobre a gravação segundo a qual, para a Procuradoria, Temer aquiesceu com a compra de silêncio de Cunha feito pelo dono da JBS.
(Reportagem de Ricardo Brito)