BRASÍLIA (Reuters) - Em entrevista a seis jornais estrangeiros na manhã desta quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff afirmou que vai apelar a todas as medidas legais existentes para barrar o processo de impeachment que pretende tirá-la do cargo e repetiu que não irá renunciar.
“Por que ‘eles’ querem que eu renuncie? Porque sou uma mulher fraca? Eu não sou”, disse, de acordo com reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian. Dilma disse, ainda segundo o jornal, que seus rivais políticos querem que ela deixe o cargo para evitar a dificuldade de removê-la do posto “indevidamente, ilegalmente e criminalmente".
Segundo a reportagem do jornal norte-americano The New York Times, a presidente afirmou que irá apelar com todos os meios legais possíveis contra o impeachment.
A entrevista foi dada a correspondentes das publicações no Brasil. Além do jornal norte-americano e do britânico, Dilma falou ao Página 12, da Argentina; ao El País, da Espanha; ao Le Monde, da França, e ao Die Zeit, da Alemanha. Já na tarde desta quinta, o New York Times e o Guardian publicaram em suas edições online reportagens com parte da conversa com a presidente.
Mais uma vez, Dilma classificou de golpe a tentativa de aprovar o impeachment no Congresso e mostrou preocupação com o impacto no futuro do país. A presidente disse que não fazia comparações com golpes militares realizados no passado, mas disse que sua eventual destituição representaria um rompimento na ordem democrática, que deixaria uma "cicatriz profunda" na política do país.
De acordo com o New York Times, a presidente mostrou um tom “desafiante” durante a entrevista, que durou uma hora e quarenta minutos. Ela defendeu sua campanha eleitoral, afirmando que não houve nenhum tipo de doação ilegal, e a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o comando da Casa Civil de seu governo.
Dilma classificou o ex-presidente como um "parceiro" e defendeu as habilidades políticas de seu antecessor.
Segundo o Guardian, Dilma mostrou otimismo durante toda a entrevista e apenas pareceu irritada ao falar do juiz federal Sérgio Moro, que conduz em primeira instância os processos da operação Lava Jato. A presidente criticou interceptação de conversas telefônicas das quais participou e afirmou que um juiz precisa ser “imparcial”
Dilma mostrou preocupação com o que chamou de aumento da intolerância no país e negou ter problemas com as manifestações, que avaliou como próprias de um período democrático. Ao comentar os protestos que pedem pela sua saída da Presidência, a petista reconheceu que não é agradável ser vaiada, mas disse dormir bem à noite.
A entrevista da presidente com o grupo de correspondentes estrangeiros é parte de uma estratégia do Palácio do Planalto de chamar a atenção para o processo político brasileiro no exterior.
Na última terça-feira, foram convidados todos os membros do corpo diplomático acreditados no Brasil para assistir ao ato de juristas contrários ao impeachment.
Nesta semana, os ministros da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, e da Chefia de Gabinete da Presidência, Jaques Wagner, também deram entrevistas a correspondentes estrangeiros.
(Por Lisandra Paraguassu)