Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff reconheceu nesta quinta-feira que o governo errou ao não prever a desaceleração econômica, mas estimou que 2016 será um ano melhor, e disse que o país precisa voltar a crescer para alcançar o equilíbrio fiscal.
"O maior erro do governo, estou falando de 2014, ele tem repercussão em 2015. Nós, assim como muitos, a grande maioria, não percebemos a grande desaceleração que ocorreria em decorrência de efeitos externos e internos", afirmou a presidente nesta quinta-feira, em café da manhã no Palácio do Planalto com repórteres de jornais, rádios e TVs, do qual a Reuters e outros veículos foram excluídos.
Durante a conversa, de aproximadamente uma hora e meia e cuja gravação foi disponibilizada pela Presidência, Dilma fez questão de garantir que o compromisso primeiro do governo é com a estabilidade fiscal.
A troca de ministros da Fazenda, com a saída do ortodoxo Joaquim Levy, identificado com o ajuste fiscal, e a entrada de Nelson Barbosa, visto como menos preocupado com o controle dos gastos, gerou temor no mercado de que o governo estaria deixando de lado o ajuste das finanças públicas. E o Planalto está tentando desfazer essa percepção.
Usando uma expressão dita pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, no dia anterior, Dilma afirmou que não há "um coelho na cartola" para resolver a crise econômica.
"Acho que não tem um coelho na cartola, porque a questão da estabilidade macroecômica tem a ver com duas grandes ações .. A primeira ...tem um componente fundamental, que é o reequilíbrio fiscal do país", disse a presidente, ressaltando que o governo perdeu mais receitas que o esperado e que por isso, apesar do corte de 104 bilhões de reais em despesas, ainda tem um problema fiscal.
"O primeiro item da nossa equação é enfrentar o reequilíbrio fiscal. E isso é muito importante, porque impacta na melhoria das condições de inflação. E as duas questões têm ligação com um segundo elemento, que é a volta do crescimento", disse.
A presidente avaliou ser muito difícil avançar no processo de reequilíbrio fiscal com a queda da atividade econômica. "É sabido que é muito difícil você fazer um processo de reequilíbrio fiscal se não, pelo menos, parar com a queda da atividade econômica."
O governo aposta na aprovação de medidas importantes que ainda estão no Congresso para reequilibrar as contas. Nos próximos três meses, disse a presidente, a meta do governo é aprovar as medidas provisórias que alteram as regras sobre Juros sobre Capital Próprio e a que trata de ganhos de capital, e também a Proposta de Emenda Constitucional que estende a Desvinculação de Receitas da União (DRU), que já foi aprovada pela Comissão Especial, e a PEC que recria a CPMF –essa ainda não tem nem mesmo relator indicado.
"Essas são as medidas de curto prazo", disse a presidente, acrescentando que "todo o governo está empenhado em garantir que 2016 seja melhor do que 2015".
No longo prazo, o governo aposta em mudanças mais estruturais. Entre elas, a reforma da Previdência –que Dilma afirmou que o país "terá que encarar"– e alterações no sistema tributário, que a presidente evita chamar de "reforma", porque seria apenas um conjunto de medidas.
IMPEACHMENT
Durante o encontro, a presidente evitou falar diretamente do processo de impeachment aceito pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em dezembro.
Questionada se o governo teria condições de aprovar medidas no Congresso no momento em que precisa lidar com essa questão, Dilma disse acreditar que havia uma "baixa consciência do tamanho da crise" e que a situação mudou e que "daqui para frente fica claro quem é a favor ou contra".
"Eu não estou dizendo que tem que apoiar o governo para ser a favor do Brasil. Mas eu estou falando que tem que tomar algumas medidas a favor do Brasil que podem coincidir com aquelas que o governo propuser", disse.
"Não é possível achar também que nós repetiremos 2015. Não vai ser repetido 2015. Eu acho que esgotou o modelo de 2015 do 'quanto pior, melhor'. Está esgotado. Porque o pior atinge todo mundo de forma muito profunda."
DENÚNCIAS
No dia em que novas denúncias surgiram contra ministros próximos a ela –Jaques Wagner (Casa Civil) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social) foram acusados de intermediar doações de campanha de empreiteiras– Dilma afirmou ter certeza que "poucos governos tiveram uma relação tão clara, tão explícita, na garantia das condições de investigação".
"Em especial, tenho clareza que devo ter sido virada do avesso. E tenho certeza, podem continuar me virando do avesso. Sobre minha conduta não paira nenhuma embasamento, nenhuma questão pouco clara", afirmou a presidente.
A presidente afirmou ainda que entende "perfeitamente" a importância das operações da Polícia Federal e que vão permitir no médio e longo prazos uma relação mais correta dos agentes públicos e privados com os recursos do governo.
Dilma ressalvou, no entanto, que não se pode acreditar que para combater a corrupção no Brasil se pode "destruir empresas".
"Se combate punindo as pessoas. Elas usaram da sua condição para cometer crimes. Então você pune pessoas, não destrói empregos e empresas", disse.
A presidente falou ainda da relação com o vice-presidente, Michel Temer, estremecida há alguns meses, mas foi sucinta. Classificou a relação com o vice de "ótima" e disse não acreditar que Temer trabalhou pelo impeachment.