Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em meio ao furacão causado pelo início do processo de impeachment, a presidente Dilma Rousseff abrirá a agenda na sexta-feira para uma primeira aproximação com o presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, na tentativa de começar bem uma das principais relações comerciais do Brasil, disseram à Reuters fontes do governo.
Apesar da distância ideológica, o governo brasileiro --especialmente o Itamaraty e a área econômica-- viu com bons olhos a eleição de Macri. A avaliação foi de que qualquer mudança seria um avanço em relação às dificuldades encontradas atualmente com o governo de Cristina Kirchner, com quem as relações comerciais estão em seu pior momento em 10 anos.
A expectativa é de que Macri, eleito pela coligação de centro-direita Cambiemos, destrave as barreiras comerciais impostas pela atual administração argentina nos últimos dois anos, desde o agravamento da crise econômica no país.
No entanto, as diferenças ideológicas podem atrapalhar a aproximação, que está sendo negociada com cuidado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira.
As declarações de Macri, logo depois de eleito, de que pediria a suspensão da Venezuela do Mercosul, por descumprimento da cláusula democrática, foram recebidas com irritação pelo governo brasileiro, que evitou criticar o novo presidente argentino.
Como tudo no Mercosul precisa ser decidido por consenso, a avaliação é de que não é necessário comprar uma briga com o presidente eleito da Argentina.
O tema deve surgir inevitavelmente na reunião de sexta-feira, mas puxada pelo fato de que as eleições parlamentares venezuelanas acontecem no domingo e com declarações de que ambos esperam por um pleito que siga as regras democráticas, disse à Reuters uma fonte do Planalto.
Eleito há 10 dias, Macri conversou com Dilma e prometeu que o Brasil seria o primeiro país que visitaria, antes mesmo da posse, no dia 10 de dezembro. Ele já declarou que tem interesse especial no comércio bilateral.
Nos últimos dois anos, apesar das tentativas de resolver os impasses e da criação de várias mesas de negociação, pouco se evoluiu, e periodicamente produtos brasileiros são parados na fronteira por falta de autorizações de importação concedidas pelo governo aos seus empresários.
Até outubro, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a corrente de comércio entre os dois países já caiu 19 por cento. Desde 2011, quando atingiu o auge, a queda já passa de 30 por cento, em todos os setores, incluindo automóveis, linha branca e alimentos.