Por Maria Carolina Marcello e Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - O cenário político requer cautela e é preciso esperar um pouco mais para ver quem restará imune ao “vendaval” por que passa a política brasileira, o que torna a eleição de 2018 "uma grande interrogação hoje", avaliou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.
Dirigente do partido de centro-esquerda que comemora 70 anos de fundação, Siqueira mantém conversas com diversos setores da política brasileira e não descarta uma candidatura própria do partido à Presidência da República. Pondera, no entanto, que qualquer decisão no momento seria precipitada.
“O partido tem uma visão e eu, particularmente também, que 2018 é preciso ter muita cautela porque o mundo político brasileiro passa por um vendaval monumental e nós não temos absolutamente nenhuma segurança de quem se porá em pé até julho de 2018, quando será a escolha dos candidatos”, disse à Reuters o presidente do PSB.
“Portanto, o que está acontecendo não tem um prazo para se resolver. A crise é profunda e não é de um partido ou de outro. A crise é sistêmica, do sistema político, eleitoral e partidário, provocada por uma sucessão de escândalos."
Siqueira tem mantido conversas com dirigentes de diversos outros partidos, avaliações “preliminares” do contexto geral. Há poucos dias esteve com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
Também deve se encontrar com a presidente Nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), além de manter boa relação com Marina Silva, do Rede, que chegou a concorrer pelo PSB à Presidência na eleição passada, e com lideranças do PDT e do PCdoB.
"Não se sente segurança em ninguém com relação a 2018, 2018 é uma grande interrogação hoje”, avaliou.
LULA
Sobre uma eventual candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, avalia que “lamentavelmente” é provável que ele não consiga disputar a Presidência.
“Lamentavelmente porque acho que uma liderança como ele deveria estar aí, não sei com o apoio de quem, mas ele tem seu papel na história”, disse.
Atual líder nas pesquisas eleitorais, Lula foi condenado na primeira instância pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso que envolve um tríplex no Guarujá (SP). Caso a sentença seja confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Lula ficará impedido de disputar um terceiro mandato presidencial.
Se no cenário nacional reina a indefinição, no âmbito regional o PSB já tem algumas escolhas claras e trabalhará para oferecer candidaturas em dois dos maiores colégios eleitorais: os governos de São Paulo, com o atual vice-governador Márcio França, e de Minas Gerais, com o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda.
“Nós temos buscado isso porque o nosso entendimento é que é muito difícil um projeto nacional sem São Paulo e Minas”, explicou.
REFORMA POLÍTICA
O presidente do PSB avalia ainda que não há clima no Congresso Nacional para uma reforma política “ampla e profunda”. Das reuniões que tem participado sobre o tema, colheu a impressão de que há acordo entre parlamentares para aprovar o fim das coligações e a chamada cláusula de barreira.
Também identificou um crescente movimento, no Legislativo, pelo “distritão”, sistema majoritário em que são eleitos os deputados mais votados em cada Estado, ainda que o texto em análise por uma das comissões da Câmara que trata do tema estabeleça o sistema distrital misto, em que metade dos cargos será preenchida a partir de uma lista fechada enquanto a outra metade será definida pelo sistema de votação majoritária em distritos.
A reforma política deve passar ao centro das atenções nos próximos dias, diante da necessidade de o Congresso aprová-la até um ano antes das próximas eleições. Os parlamentares devem discutir ainda uma forma de financiamento das campanhas --o texto em análise na Câmara prevê um fundo abastecido com recursos públicos.
RESISTÊNCIA
Siqueira defende uma refundação da esquerda como “necessidade absoluta” no momento atual.
“Devemos resistir. O momento hoje é de resistência, tal é o grau de fragilidade das forças de centro-esquerda.”
O PSB chegou a apoiar o governo Temer, logo no seu início, mas moveu-se na direção oposta quando foram apresentadas as reformas trabalhista e da Previdência.
Esse movimento, no entanto, evidenciou fissuras entre os parlamentares do partido, com parte deles apoiando as reformas e o governo. O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que é da legenda, segue no cargo.