Por Lisandra Paraguassu e Gustavo Bonato
BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Gilmar Mendes avaliou as eleições municipais deste ano como uma das mais violentas da história recente do país, e o governo vai estudar medidas para tentar diminuir o clima de tensão para o segundo turno, informou o ministro da Defesa, Raul Jungmann.
"É uma das eleições mais violentas que já tivemos... É inequívoco que o crime organizado está participando destas eleições. As milícias estão participando das eleições no Rio de Janeiro. O narcotráfico também tem seus candidatos. Precisamos prestar atenção nisso", disse o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, a jornalistas.
Ainda assim, Mendes disse que a votação seguia tranquila em todo país neste domingo e que os casos de violência foram pontuais, já solucionados com o apoio das forças de segurança.
De acordo com Jungmann, 491 municípios contam com tropas das Forças Armadas ou da Força Nacional, 14 a mais do que nas eleições de 2012.
"O presidente Michel Temer pediu ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que reúna os ministros da área de segurança para ver o que é possível fazer para melhorar essa situação", disse Jungmann.
O presidente do TSE também informou que se reunirá com Temer nos próximos dias para fazer um balanço do pleito e também irá sugerir medidas de segurança.
Os ministros ressaltaram, no entanto, que até o início da tarde deste domingo não houve mais incidentes. O mais recente foi o ataque a três escolas onde ficam seções eleitorais em São Luiz e uma urna queimada na mesma cidade, durante a madrugada.
Em Angra dos Reis (RJ), houve tiroteio em um bairro e uma equipe da Justiça Eleitoral foi impedida de entrar em uma escola, obrigando a transferência das urnas para outro ponto da cidade.
No balanço parcial até por volta de 13h30, divulgado pelo presidente do TSE às 15h, foram registradas 1.410 ocorrências, com 83 candidatos e 575 eleitores sendo presos em flagrante por irregularidades eleitorais que vão de propaganda de boca de urna a transporte irregular de eleitores e corrupção eleitoral.
Aconteceram ainda outras 66 ocorrências com candidatos, mas em prisões, e 686 problemas diversos com eleitores.
O tribunal informou também que 2.231 urnas eletrônicas precisaram ser substituídas ao longo da manhã, representando 0,38 por cento do total de equipamentos instalados. Não houve, no entanto, a necessidade do uso de votação manual em nenhuma seção no país.
Mendes informou, ainda, que os gastos em campanha dessa eleição, registrados até agora, equivale a pouco mais de um terço do pleito de 2012. Pelos dados do TSE, os candidatos investiram 2,131 bilhões de reais, contra 6,240 bilhões nas eleições municipais anteriores.
"É uma diferença significativa, o que talvez reflita no caráter mais modesto, mais econômico, do pleito, como se está vendo em função das mudanças vistas na legislação", disse o ministro.
CANDIDATOS
Até o final da manhã, a maioria dos candidatos mais bem colocados nas pesquisas nas principais capitais do país, como em São Paulo e Rio de Janeiro, já havia votado.
Primeira eleição realizada sob novas regras de campanha eleitoral e de financiamento, a votação deste domingo não deve mostrar um partido vencedor claro após a conclusão da apuração, mas a expectativa geral é que o PT, que enfrenta uma tempestade de más notícias nos últimos meses, seja o maior perdedor.
Pouco mais de 144 milhões de eleitores estão indo às seções eleitorais nos 5.568 municípios do país, após uma campanha ofuscada pelos montantes mais modestos destinados às candidaturas, o tempo menor de propaganda eleitoral no rádio e na TV e o turbilhão político, alimentado especialmente pelo processo de impeachment de Dilma Rousseff, que monopolizou o noticiário pouco antes do pleito.
E é justamente este turbilhão que forma quase um consenso entre observadores da cena política nacional de que o PT, partido que governou o Brasil por 13 anos, deve ser o principal derrotado quando contados os votos de uma eleição que servirá também para medir os impactos eleitorais das investigações da operação Lava Jato.
"A Lava Jato só nos mostrou uma face da política que já conhecíamos, porém em uma dimensão que não imaginávamos... A campanha esse ano foi menos ostensiva, em virtude da crise que o país vive", avaliou o eleitor Fabrício Barbuto, engenheiro mecânico no Rio de Janeiro. "Houve também um nivelamento por baixo das candidaturas."
O presidente Michel Temer (PMDB) foi um dos primeiros a votar na manhã deste domingo, logo depois das 8h da manhã, em uma seção eleitoral em uma universidade na zona oeste da capital paulista, sem registro de protestos ou tumultos.
"Mais um gesto democrático para nosso país", disse brevemente a jornalistas o presidente, cuja assessoria havia informado que ele iria à seção eleitoral no fim da manhã.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outra figura política que esteve no centro das atenções nas últimas semanas, após virar réu na Justiça Federal no Paraná por suposta conexão com os crimes revelados na Lava Jato, também votou pela manhã.
"Nós enfrentamos uma guerra da imprensa contra o PT que já dura sete anos, e nas pesquisas somos a legenda preferida do eleitorado brasileiro. O fato de o PT ser a legenda preferida mesmo nessa crise demonstra que se enganam aqueles que acham que podem acabar com o PT", disse Lula, em São Bernardo do Campo (SP).
A apuração começa imediatamente após o fechamento das urnas, às 17h pelo horário de cada cidade. A estimativa do TSE é que a apuração seja encerra entre três e três horas e meia depois do encerramento da votação.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro, e Natália Scalzaretto, em São Paulo)