(Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou uma carta aberta na noite de quinta-feira em que disse não se conformar que frases ditas por ele em conversas pessoais grampeadas se tornem "objeto de juízos derrogatórios" sobre seu caráter, e afirmou acreditar na Justiça e no equilíbrio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em trecho de conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça no âmbito da operação Lava Jato, em que Lula é alvo de investigação, o ex-presidente afirma que o STF, assim como outras instituições, está "acovardado", o que provocou duras críticas de ministros da corte ao ex-presidente.
Na carta, Lula afirma que a divulgação pública de conversas particulares ofende a lei e foi um ato de violência, e acrescenta que o conteúdo das conversas particulares não deve ser usado para se julgar o seu caráter.
"Não espero que ministros e ministras da Suprema Corte compartilhem minhas posições pessoais e políticas. Mas não me conformo que, neste episódio, palavras extraídas ilegalmente de conversas pessoais, protegidas pelo Artigo 5o. da Constituição, tornem-se objeto de juízos derrogatórios sobre meu caráter", disse o ex-presidente no texto.
Lula acrescentou que espera isenção do Poder Judiciário no julgamento de ações contra ele.
"Os tristes e vergonhosos episódios das últimas semanas não me farão descrer da instituição do Poder Judiciário. Nem me farão perder a esperança no discernimento, no equilíbrio e no senso de proporção de ministros e ministras da Suprema Corte", afirmou.
"Justiça, simplesmente Justiça, é o que espero, para mim e para todos, na vigência plena do estado de direito democrático", afirmou.
Lula foi empossado como novo ministro da Casa Civil pela presidente Dilma Rousseff na quinta-feira, mas a posse foi suspensa por decisões liminares em meio a uma batalha jurídica.
A posse de Lula ocorreu em meio ao acirramento do já tenso clima político, após a divulgação na quarta-feira de conversa telefônica em que Dilma afirma ao ex-presidente que estava enviando um emissário para lhe entregar o termo de posse de ministro para ser usado "em caso de necessidade".
O diálogo levou à interpretação de que Dilma estaria entregando o documento a Lula para que ele se protegesse de uma eventual ação da operação Lava Jato, já que sua entrada no ministério lhe dá foro privilegiado junto ao Supremo.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)