Após um primeiro turno marcado por uma relação de altos e baixos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) estiveram juntos em um evento na reta final da campanha eleitoral em São Paulo. Bolsonaro, que no início da corrida pelo comando do Executivo paulistano chegou a flertar com a candidatura de Pablo Marçal (PRTB), ontem colou o adesivo do emedebista no peito e pediu votos para o candidato à reeleição a uma plateia de empresários.
Na semana que antecede a votação em segundo turno, Nunes, contudo, fez questão de evidenciar a aliança com o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na noite desta segunda, 21, o prefeito disse que o governador foi "a grande figura dessas eleições" e demonstrou ser um "grande líder" por ter mostrado que tem lado nos momentos mais adversos. "Numa guerra é o capitão que põe o peito na frente e não deixa ninguém para trás, soldado para trás", declarou. A frase abre margem para duas interpretações: Tarcísio tem a patente de capitão do Exército, assim como Bolsonaro, mas o ex-presidente foi reticente na campanha.
Nesta terça, 22, em entrevista para a GloboNews, Nunes reafirmou o prestígio de seu maior aliado: disse que, se houvesse apenas uma vaga no seu evento de posse - caso seja reeleito -, chamaria o governador.
Antes, o prefeito, Bolsonaro e Tarcísio participaram de um almoço em uma churrascaria no Morumbi promovido por Fauzi Hamuche, da confraria Caves. Os três chegaram juntos, pouco antes das 13h. Em um discurso breve, de cerca de três minutos, o ex-presidente reforçou o pedido de votos ao emedebista e lembrou que as eleições só terminam às 17h do próximo domingo. "Dia 27, em nove capitais, eu sou 22. Mas, em São Paulo, eu sou 15", afirmou Bolsonaro, destacando que é preciso trabalhar até o último momento.
O encontro teve referências à eleição presidencial de 2026. Logo no início, Fabio Wajngarten, que articulou o almoço e é um dos principais interlocutores entre Bolsonaro e a campanha de Nunes, disse que a aliança em torno do prefeito é um "embrião" para 2026. Após o almoço - que reuniu mais de 300 pessoas, entre vereadores eleitos, empresários de diferentes setores e advogados -, em conversa com jornalistas, o ex-presidente afirmou que formou líderes pelo Brasil. E se comparou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo que o petista não formou substitutos. "Quem é o substituto de Lula na política dentro do Brasil? Não tem. De Bolsonaro? Tem um monte por aí. Colaborei a formar lideranças e estou muito feliz com isso", declarou.
Em discurso, Nunes agradeceu a Bolsonaro pela negociação que extinguiu a dívida de São Paulo em troca da cessão do Campo de Marte à Aeronáutica e apelou aos eleitores para que não deixem de votar no domingo. Tarcísio fez um discurso alinhado ao do prefeito, reforçando a importância de conquistar os indecisos. "Temos que convencer todos aqueles que pensam que está resolvido, porque não está, tem trabalho até o último dia."
BH
Ainda ontem, Tarcísio declarou apoio ao deputado estadual Bruno Engler (PL), candidato à prefeitura de Belo Horizonte. Em vídeo publicado nas redes sociais do candidato, o governador disse que vai "compartilhar experiências" com Engler para ajudá-lo em um eventual comando do Executivo municipal.
Segundo Tarcísio, Belo Horizonte precisa de renovação e "sangue novo". O governador de São Paulo ainda se colocou como fiador de Engler, ao afirmar que candidato do PL tem políticas públicas de qualidade para a capital mineira.
'Múltipla'
Em entrevista coletiva após o evento, Nunes minimizou a ausência de Bolsonaro no primeiro turno, dizendo que o ex-presidente percorre o País na eleição e participou da campanha por videoconferência e falando com as pessoas. Bolsonaro afirmou que sua agenda é "múltipla" e colaborou de forma distante, por exemplo, com a indicação do coronel Mello Araújo (PL) para a vice do emedebista.
'No meio de campo'
O ex-presidente citou a reunião que teve com Marçal há cerca de três meses, dizendo que o influenciador saiu do encontro afirmando que teria o apoio do ex-mandatário, o que não era verdade. "O pessoal da direita achou que eu estava com ele e não era verdade. Depois foi uma dor de cabeça para mostrar que nosso candidato era quem já vinha dando certo, quem tinha tudo para continuar um bom trabalho em São Paulo", disse Bolsonaro.
"O cara só pode fazer um gol se alguém passar a bola para ele. Eu joguei no meio de campo", declarou Bolsonaro. A presença do ex-presidente na reta final da campanha, entretanto, não foi resultado de uma estratégia deliberada, mas uma questão de compatibilidade de agendas.
À GloboNews, Nunes ressaltou que não tem medo de perder votos por causa da rejeição do ex-presidente na capital paulista. Para ele, as pessoas estão "saturadas" de discussões sobre "esquerda e direita" e querem "vida real". Ele também afirmou que é grato ao ex-capitão. (COLABORARAM LUCCAS LUCENA, GEOVANI BUCCI E VINÍCIUS NOVAIS) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.