Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A campanha do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, entrou em uma fase de "modo avião" a fim de evitar turbulências a menos de duas semanas para o segundo turno, no momento em que os principais institutos de pesquisa têm registrado considerável vantagem do capitão reformado em relação ao adversário petista, Fernando Haddad.
A determinação repassada por Bolsonaro, segundo integrantes do núcleo duro da campanha revelaram à Reuters, é que auxiliares não se exponham e acabem por dar "munição" para desgastar a candidatura.
Na reta final do primeiro turno, a campanha do presidenciável sofreu críticas por declarações dadas e informações publicadas pela imprensa referentes ao candidato a vice-presidente na coligação, general Hamilton Mourão, e ao seu principal assessor econômico, Paulo Guedes.
Mesmo à época hospitalizado, recuperando-se de cirurgias após ter sido alvo de um atentado à faca, Bolsonaro teve que intervir para reduzir os danos das críticas que Mourão fez ao pagamento do décimo terceiro ou da possibilidade de recriação de um imposto nos moldes da CPMF sob análise da equipe de Guedes.
Após esses episódios, auxiliares do candidato do PSL reduziram aparições públicas e entrevistas à imprensa -- Mourão, por exemplo, teve de cancelar agendas públicas de eventos que participava e, após conversas com Bolsonaro, se impôs uma espécie de lei do silêncio.
Nessa reta final, até mesmo o grupo dos generais --que estavam mais aberto a falar com jornalistas-- decidiu reduzir o número de entrevistas. "Hoje, até por determinação superior, não estamos falando", disse um auxiliar reservadamente. "Agora nós estamos, como dizem os marinheiros, não fazendo marola para não atrapalhar o Bolsonaro", completou.
Por ordem médica, o próprio Bolsonaro, que passou três semanas no hospital, tem se resguardado de participar de eventos de campanha, como debates e eventos na rua. Haddad, aliás, tem pressionado o adversário a ir aos debates da reta final, acusando-o de fugir.
O candidato do PSL tem usado principalmente as redes sociais para se contrapor a Haddad e falar sobre as propostas de um eventual governo dele.
O deputado federal reeleito e cotado para assumir o Ministério da Casa Civil na gestão do presidenciável do PSL, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), saiu em defesa de Bolsonaro nesta terça-feira e afirmou que uma coisa é falar 20 minutos, outra são duas horas.
"Quer que eu fale em bom português? Um cara colostomizado peida, fede, no meio de um debate político, acha adequado isso?", afirmou a jornalistas na Câmara dos Deputados. "Viu o laudo médico? Já entrou no Google (NASDAQ:GOOGL) para ver o que é colostomizado? Então olha e pergunta para ti mesmo se uma pessoa assim pode ir a um debate televisivo", completou.
Segundo Onyx, Bolsonaro está há três anos e meio expondo suas ideias e propostas Brasil afora, visitando locais onde a imprensa não tem ido. "Conquistou tudo que conquistou, tem que dizer mais o quê?", questionou.
O presidente licenciado do PSL e deputado federal eleito, Luciano Bivar (PE), concorda com a estratégia adotada. "Você hoje quanto mais se expões, fala muito, você pode ter um jornalista pérfido e que pode desviar as coisas, então é um momento muito importante da sociedade brasileira e todos nós temos muito cuidado", disse.
"O PSL hoje é protagonista do cenário político e todos nós temos uma parcela de responsabilidade", completou.