(Reuters) - O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, afirmou que irá trocar equipes de investigação da Polícia Federal se "cheirar" vazamento de informações, mas negou pretenda influenciar na operação Lava Jato, conforme entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada neste sábado.
"Cheirou vazamento de investigação por um agente nosso, a equipe será trocada, toda. Não preciso ter prova. A Polícia Federal está sob nossa supervisão", afirmou ao jornal.
Para o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Carlos Miguel Sobral, a fala revela que há uma intenção em acabar com a Operação Lava Jato, segundo a Folha. A ADPF avalia ingressar com medidas judiciais para garantir a atuação dos delegados. Segundo Sobral, não há indícios até agora de nenhuma ilegalidade cometida durante as investigações do esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4).
O ministro, porém, negou na entrevista ao jornal a intenção de interferir na Lava Jato. Questionado sobre a possibilidade de influenciar na operação que investiga corrupção envolvendo empresas estatais, órgãos públicos, empreiteiras e políticos, ou atuar para barrar a investigação, Aragão foi taxativo.
"Não, de jeito nenhum. Não tenho essa prerrogativa, essa competência."
Na entrevista, o ministro classificou de "extorsão" o método com que as delações premiadas são negociadas na Lava Jato, avaliação contestada pelo presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti, segundo a Folha.
"Não há extorsão alguma, não há delação premiada sem voluntariedade no Brasil e nem na Lava Jato", disse Robalinho Cavalcanti.
Na entrevista, o ministro também minimizou as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma escuta telefônica, afirmando que ele deveria ter "pulso firme" no ministério.
"Não, isso é uma conversa privada dele. As pessoas entre quatro paredes falam o que querem. Fico até me perguntando qual o interesse público numa fofoca dessa. Isso para mim se chama fofoca. Não me afeta", disse Aragão.
Eugênio de Aragão, ex-subprocurador-geral da República, foi nomeado ministro da Justiça na última segunda-feira, em substituição a Wellington César Lima e Silva, que ficou poucos dias no cargo e deixa a pasta após o Supremo Tribunal Federal determinar que vale o previsto na Constituição de 1988, que proíbe membros do Ministério Público, caso do agora ex-ministro, de ocupar outros cargos públicos que não o de professor.
Embora também seja membro do Ministério Público, para o governo Aragão não se enquadra nas restrições, pois ingressou no MP em 1987, antes da promulgação da Constituição.